Depois daquelas pedras existe uma passagem
e só quem por ela penetra
percebe importantes e delicados detalhes:
luz da lua por janela entreaberta,
samambaia chorona cochichando com as avencas,
monsenhor apaixonado por bromélias,
renda portuguesa discretíssima, só observa;
borboleta pousada no meu ombro esquerdo
busca uma chance de revelar seus segredos,
palavras que sorriem quando ditas em versos,
cata vento que venta ao contrário
e traz cheiro de mato pra dentro do quarto,
portas e gavetas abertas, escancarado o armário,
colibris que escrevem poemas...
Hoje, em meu jardim já são dezesseis!
Madrugada que avisa que o dia que chega
vai ser de preguiça, chuva fina e aconchego,
mulher amada aninhada em cobertas,
pernas entrelaçadas com as minhas embriagadas;
essência de alfazema espalhada pelo quarto;
dragão tatuado que solta fogo pelas ventas
e aquece o ambiente, dias frios de inverno,
café quente e encorpado, e ainda quero um cigarro!
Detalhes, pequenos pecados, prazeres confessos,
segredos revelados, sonhar acordado,
seus olhos bordados a tecer muitas teias;
e tem também o conhaque, e o vinho tinto e encorpado,
e algazarra de pássaros na janela da sala...
Passarada danada se expulso de lá, me invadem o quarto!
Depois daquelas pedras existe uma passagem
e só quem nela acredita consegue com o tempo,
viver no mundo de dentro sem abrir mão da vida lá fora.
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