Passei muitos preconceitos por ser gorda e alta, quando me mudei para São Paulo, percebi que aqui o preconceito com o gordo é bem menor ou se apresenta de uma forma mais leve do que na cidade onde nasci (Belém). Tenho uma amiga conterrânea que escreve muito bem e que também é gorda, e como ela já veio para São Paulo , perguntei se ela percebia essa variação na intensidade em como o preconceito se apresenta nas diferentes cidades , se ela notava essa diferença. (Nadja Leitão)
Abaixo segue o texto escrito lindamente pela Fernanda, para que possamos refletir sobre o preconceito …… espero que vocês gostem.
A cartografia do gordo-preconceito
Conversando com uma colega, também paraense, que vive em atualmente em São Paulo, discutíamos pontos de vista, relativos ao preconceito regional, imputado à população obesa, ou gorda. Ela perguntava-me se eu achava que o preconceito em Belém, era maior que em São Paulo, ou o contrário. Pensei, e ainda penso sobre o assunto.
Em primeiro lugar, todas as suposições e conjecturas pré conceituais, geralmente não têm fundamento, é o senso comum que impera. Observo, é que quanto mais distante as metrópoles estão do acesso aos bens culturais, maior torná-se o achismo e o pragmatismo. É mais fácil lidar com o desconhecido, marginalizando-o. Desta forma, penso que, por em Sampa, haver uma diversidade cultural e étnica, muito grande, e o acesso aos bens sociais estarem mais disponíveis à população, as pessoas acabam acolhendo melhor as diferenças, sendo mais tolerantes.
Em Belém, percebo ainda posturas, carregadas de machismo, de moralismo e indignação. É gente, acreditem, de indignação. Os olhares voltados aos gordos, é de total reprovação, como se a obesidade, fosse a “doença do desleixo”, da “preguiça” e definitivamente não é!
A população gorda, invadiu o território dos esguios, magros por convicção, esbeltos e todos aqueles não-gordos. Que grande ultraje, para uma franca maioria de tiranos da magreza!
Entretanto, não é assim só em Belém, já tive a oportunidade de viajar por alguns lugares do Brasil, e constatar comportamentos que se investigados, comporiam um grande mapa “etno-conceitual” (não vi este termo em nenhum lugar, não sei se existe), tendo como foco os gordos. Se esse estudo fosse realizado, não tenho a menor dúvida, que mostraria claramente que o fenômeno maior, não seria a obesidade, mas o pré-conceito (pré conceituação, sem validade científica, baseada em conhecimento de senso comum ou vulgar, típica de zonas onde prevalecem o pouco desenvolvimento cultural e também social).
Fernanda Lopes – Maiúscula por convicção!