L’amour, hum hum, j’em veux pas
(Eu não quero o amor)
J’préfère de temps em temps
(Prefiro de tempos em tempos)
Je prefere le goût du vent
(Eu prefiro o gosto do vento)
Le goût étrange et doux de la peau de mes amants
(O gosto estranho e suave da pele dos meus amantes)
Mais l’amou, hum hum, pas vraiment!
(Mas o amor, hum hum, de jeito nenhum)
(Carla Bruni)
“Espero para ver se você vem
Não te troco nessa vida por ninguém
Porque eu te amo... eu te quero bem!
Acontece que na vida gente tem
Que ser feliz por ser amado por alguém
Porque eu te amo, eu te adoro, meu amor
(...)
Grito ao mundo inteiro
Não quero dinheiro
Eu só quero amar.”
(Tim Maia)
Duas canções. As duas falam de amor. Em uma se quer amar, enquanto na outra, dispensa-se o amor. E daí eis que me pergunto: queremos amor? Sabemos amar?
Aqui se falará do amor que une duas pessoas, carnal, terreno, profano e divino.
Se procurarmos nas músicas, nas poesias (e até mesmo nas prosas) encontraremos toda forma de amor. Poetas apaixonados enxergam nas cores do mundo a mesma vibração de seu peito, todo ele cheio de um sentimento de vida que descobriu nos braços de ontem e que redescobrirá no ciclo do novo (e, no mais das vezes, diferente) abraço de amanhã.
Por sua vez, compositores cantarão dores de um amor finito, cuja herança, a solidão, é a companhia inevitável de uma dor que fazem questão de rimar com esse mesmo amor do poeta feliz.
Nos filmes e livros amores impossíveis são sempre possíveis, talvez porque o amor seja sempre possível. Não sei. Não se trata disso. A pergunta é sabemos amar? Queremos amar? Estamos prontos para amar?
Essa última pergunta me lembra de uma terceira música. Guilherme Arantes. E nela ele começa dizendo que tudo que queria um dia para ele, tinha visto na sua musa desde o começo, num momento em que a paz existiu e ele se sentia renascido.
Mas será que amar é isso? Será que amar é renascer e daí se afirmar que cada novo amor, uma nova vida e que, portanto, o novo amor só vem se sepultamos o amor que já morreu?
Certamente ser amado não é (ou pelo menos não deveria ser) o primeiro requisito para se amar ou mesmo um motivo determinante para isso. Fosse assim, não teríamos tantas e tantas histórias de amor não correspondido.
Então, o que é preciso para amar? E pergunto ainda: Basta amar para estar junto?
Você que me lê e tem alguém: por que você está junto de quem você está junto?
Você que me lê e não tem ninguém: o que você precisa pra ter alguém de quem estar junto?
Você que me lê e tem muitos alguéns: o que você pensa que está fazendo?
Talvez os primeiros digam que estão juntos porque amam ou porque a pessoa com quem estão lhes faz bem (para não dizer daqueles que estão só esperando algo melhor). Por sua vez, os da segunda pergunta diriam que esperam aquele alguém que balance seu mundo, que seja companheiro e que desperte o melhor de si. Para que, enfim, os terceiros não saibam dar uma resposta que sirva como boa justificativa para que não sejam de ninguém, ao mesmo tempo em que são de todo mundo e acham que o mundo é seu também.
Para Tom Jobim, fundamental mesmo era o amor, sendo impossível viver feliz sozinho.
E daí eu venho e afirmo: é possível viver um amor sozinho. É possível amar sozinho. Não sei por quantos dias, por quantos meses ou anos. Mas o amor não depende de troca para existir. O afeto sim.
Penso que se há uma causa justa para que duas pessoas se façam juntas uma da outra é a troca de afeto. E o afeto é um elemento importante do amor. É o se sentir amado, desejado, bem quisto. É se sentir parte de um projeto de vida em que os sonhos são positivos. Afeto é a troca de beijos e de carinhos. É o que mantém acesa a chama do amor dita por Vinícius.
Todos nós conhecemos casais que “se sentem presos” em relações que julgam não satisfatórias, ou se queixam das indiferenças do outro às suas necessidades, mas que, quando indagados do por que se mantém na relação, tergiversam e dão uma desculpa qualquer.
Provavelmente eles mesmos não saibam, mas o que os mantém junto é o amor. Um amor que sobrevive apesar da falta de afeto. Mas um amor que deixa de ser essencialmente carnal, pra se tornar um amor fraterno de quem sabe que vai sentir a falta da chatice do outro ou mesmo daquela presença tão ausente.
Mas enquanto a alma pede amor, o corpo quer afeto e essa é uma equação delicada de se acertar. Mas que, ao menos, não haja traumas e nem dores, mas sim, a coragem de não desistir de amar e de querer e de ser amado e ser querido. Sempre! O amor não morre pra nunca mais nascer e o afeto não acaba para nunca mais voltar.
Seja pelo de hoje, seja pelo que virá amanhã, ainda vale muito apena amar e se deixar levar.