quinta-feira, 11 de julho de 2013

Nas explosões sustenidas do meu silêncio
Vejo o fogo morto de canções sufocadas
Fumaça preta de sussurros engolidos
Notas musicais furadas com uma faca cega
Sangue preto que pinta um papel branco...
Batidas que partem um fio sonoro de um passado
Ensurdecedor e insuportável
Solos de uma solidão afinada em Dó maior
Tom máximo de uma piedade sinfônica
Um rastejar nas claves sangrentas
Peçonhentas e nojentas
Mendigos que assobiam minuetos
Abandonados que cantam em dupla
O eu e o mim: falam a língua das flautas
Semínimas que deram o seu máximo
Para fazer sangrar o som do desacreditado
Corpos que são instrumentos de um sopro
Tuberculoso e cheio de cavernas nos pulmões
Tocados por um deus que bate tambor
Com rancor
Partituras escritas com o sangue de uma paixão
Traços que arrancam as almas dos violinos
Maestro que padece num leito há anos
Rege os absurdos com a força de um pensamento mudo
Coral de surdos que canta a fraqueza de vozes
Afogadas numa bacia cheia de silêncios picotados
Cortinas rasgadas
Trombones engasgados
O som de um beijo negado que sai de uma lembrança
Música que asfixiava os gemidos comprados
Pelo fascínio de uma volta mentirosa
Chuva rubra de reticências musicais
O solo da mágoa que mistura com as vozes
Veladas, veludosas vozes de violões
Que não choram
O que chora mesmo é o pensamento.
Ele se contorce no chão
Birrento ao extremo
Os sons se resumem em batidas
Duplas e sequenciais:

Tum-Tum
Tum-Tum

O coração é o instrumento
Mais perfeito que existe
Mas tocado sempre
Em Dó Maior.


By Jackson Pedro

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