Aquele sorriso agredia a calmaria de um silêncio forçado e fazia a minha tristeza se esconder debaixo da cama com todas as suas manhas, como se fosse uma criança dengosa e birrenta. Aquele sorriso... meu porto seguro quando o medo puxava os meus pés na calada da noite. O escudo invencível que quebrava os meus desassossegos mais secretos como se fossem ovos jogados contra uma montanha.
A vida foi injusta com aquele bendito sorriso. Os lábios ficaram paralisados e os dentes perderam o brilho. A melodia sinfônica deu lugar a onomatopeias confusas e disformes. Gemidos que pintaram nas paredes gravuras repletas de dor e sofrimento. A tristeza saiu de seu esconderijo, toda empolgada e saltitante, e partiu o meu escudo em milhares de pedacinhos. O silêncio causado pela dor conquistou o silêncio da aceitação e da impotência... e o sorriso foi desaparecendo lentamente... como se fosse a chama de uma vela em uma noite de ventania. A montanha não
suportou os ataques dos ovos. Caiu.
Hoje eu contemplo o seu jazigo...
Leio mil vezes o epitáfio: "aqui jaz um sorriso
sufocado pelo excesso de amor".
Aqui.
Sob a terra.
Nunca mais.
Aquele... sorriso
O meu sorriso...
Jackson Pedro
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