quarta-feira, 10 de julho de 2013


Construo imagens que não existem e dou a elas nomes que não podem ser pronunciados. Misturo notas musicais dentro de uma caixa de remédio vencido e me arrepio com os sons que se formam... parecem unhas arranhando uma parede de um hospital feito para pessoas saudáveis. Templo sagrado onde os hipocondríacos, com orgulho, desfilam com as suas radiografias exibindo pneumonias imaginárias e carências reais. Uma explosão de manias bestas que andam abraçadas com hábitos bobos.
Agarro o invisível e acaricio os cabelos de uma realidade que molhou a minha boca mas não matou a minha sede. Pego algumas descrenças que estão esparramadas no sofá e coloco dentro dos meus bolsos furados. Passo um pano úmido nas vidraças quebradas do meu orgulho e tiro a poeira de um passado que estava coberto por um pedaço de tecido vermelho. O pano cai no chão e fica ensopado com a água suja que escorreu de uma tranquilidade que eu encostei na parede. O passado me abraça e distribui agulhadas na pele manchada de uma superação velha que respira através de aparelhos antigos. Entubada até a alma por uma esperança que apresenta buracos grandes em sua estrutura outrora impecável. Não... ela não respira. Os aparelhos foram desligados pela minha teimosia e pela minha consciência que sabe que valores são os mais descarados folclores que existem. Fecho os meus olhos e respiro os ares de uma época em que eu gostava de acordar cedo e amava assistir ao amanhecer dentro de um ônibus lotado. 
Unhas que arranham a parede de um hospital feito para pessoas saudáveis...
O consultório... a cara de piedade do terapeuta... O desfilar de enfermeiras obesas que falam cuspindo e que bebem nos centros cirúrgicos como se eles fossem bares de quinta categoria.
Ando pela casa procurando por coisas que eu não perdi...
Vou à rua e encontro coisas valiosas que foram perdidas por pessoas idiotas. 
Eu só encontro porque não procuro. Eu só perco porque protejo demais. Perda é eufemismo de proteção. Zelo é colocar uma placa oferecendo ao próximo o que não se consegue manter sem paranoias e sem neuroses.
Abusos gordos que têm vozes de mulheres magras. Rostos finos que têm feridas abertas nas testas. Um cheiro insuportável de carboreto que sai dos cabelos de putas doentes que eu fiz questão de levar para casa e apresentar aos meus pais como noivas. Absurdos que usam sapatilhas e que giram no ar dos meus desesperos e que caem nas lágrimas que eu deixei pelo caminho... Uma voz me acorda. Preciso ver o amanhecer dentro de um ônibus cheio. Não é Fácil. A minha alegria chegou no trabalho antes de mim. Ela usa aparelhos nos dentes. Suas mãos tem pedaços de ânimos que ela passa em meus cabelos. Eu choro por saber que o presente é o passado do futuro.
Amanhã eu falarei dela para outra.
Da outra para outra.
E de todas para a morte.
Alguns absurdos que eu vivi não têm nome. Mas as minhas negações têm vários sinônimos... Os meus medos possuem milhares de apelidos semelhantes. Vejo a frustração rebolando sem deixar o bambolê dos meus equilíbrios cair. Eu sei que um dia ele cairá. O que eu vou fazer? Não sei...
Talvez oferecer a minha carne para a enfermeira que fala cuspindo... preciso de curativos para as minhas lembranças. As infecções que eu carrego em meus flashbacks são perigosas.

Se você para pra pensar, o Alzheimer não é um mal.

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