ENTRE DUAS PÁGINAS
Aqui as palavras chegam ou não chegam.
Entre duas páginas ninguém dorme, ninguém morre.
Apago com a tua pele a pele do muro.
Estou rodeado de indícios silenciosos.
Leio axilas, pedras, dorsos, mãos.
Há uma pedra enterrada na carne ou uma árvore.
Apunhalo um punhal que não se apaga.
Repito com um lábio o que o outro cala.
Escuto o rumor das feridas que não sangram.
Não canto a luz na pedra fecundada.
Queria dizer, queria dizer a nudez da tua pele,
Os ventos afetuosos, a chuva nos teus ombros,
Queria tocar, queria tocar-te, queria encontrar-me,
Queria saciar a sede que inventa tantos nomes,
Queria caminhar sobre a língua e ser mundo.
ANTÓNIO RAMOS ROSA
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