domingo, 21 de julho de 2013


Estou parado no meio da sala. Contemplo a cerâmica encardida... quadradinhos de sujeira que deixam a minha casa com ares de abandono. Sinto um cheiro doce que só existe em minha memória. Sento no sofá, bebo meia garrafa de café e acendo um cigarro. Não sei onde eu deixei o cinzeiro. Não faz mal; o chão está sujo mesmo...
Fecho os meus olhos e ouço um sorriso mágico que as pessoas só conseguem oferecer no primeiro encontro. Vejo um rosto moreno, olhos um pouco "rasgados" e uma mania besta - embora encantadora - de fechar os olhos quando sorri. Eu me contorço dentro das quatro paredes de minha memória e acendo outro cigarro.
Resolvo tirar de mim o peso de alguns consolos que eu me dei... coloco tudo em uma latinha de lixo e acendo o meu isqueiro. Queimo tudo. As fumaças se misturam...
Ela diz que eu sou engraçado.
Eu coloco a mão no queixo e o cotovelo na mesa - me achando o Marlon Brando - e deixo um suave "talvez" se misturar às notas musicais do ambiente.
A magia está entre nós. Não há passado em nossa mesa. Nem futuro.
Ela gosta de rir. Qualquer coisa arranca um sorriso daquela boca perfeita. Fala gesticulando as mãos. Olha para o infinito quando busca uma palavra que fugiu do seu discurso sempre muito bem elaborado. Eu ouço. Eu falo. Eu me divirto. Por um momento eu sinto a presença de um sossego que acaricia os meus cabelos.
Bebo mais café. Está quente. Lembro da minha avó que esfriava o café girando o copo, lentamente... faço a mesma coisa. 
A minha memória da um salto triplo...
Uma igreja. Um padre careca. Convidados. Casamento.
Achando pouco, a mesma memória dá um salto com vara... bateu o record.
Um fórum. Um juiz barbudo. Testemunhas. Divórcio.
O primeiro sorriso marcou pela magia.
O último marcou pelo desprezo.

Eu continuava engraçado: palhaço!

Carregando um passado e uma galeria de marcas, eu sumo.
O cigarro acaba. Acendo outro.

O tempo passa...
(ele sempre passa)...


By Jackson Pedro
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