quarta-feira, 24 de julho de 2013

A minha vida, quando estou com muita sorte, é uma verdadeira miséria enfeitada com todos os acessórios de uma tristeza indizível. 

Não me escondo atrás de metáforas absurdas, nem coloco querosene em meus eufemismos rastejantes na expectativa de que saia uma fumaça colorida e que desenhe no ar figuras animadinhas, repletas de máximas que eu não dou a mínima. 

Eu sou assim... choro pelos vermes e tenho dó dos mortos quando chove. Acho que os caixões ficam alagados e que os corpos se contorcem lá dentro.

Coloco, todos os dias, ração de crescimento para a minha razão que sofre de um nanismo intencional e consciente... 


ápice de uma pirraça que sapateia no palco das minhas duplicidades mais descaradas e esmaga a mosquinha que é uma tentativa vagabunda de criar um simbolismo intelectual dentro de uma demência assumida. 

Niilismos alados que pousam em minha sopa fria...

Passo os meus dias olhando dentro dos olhos dos consolos que eu, de maneira compulsiva e desesperada, dou a mim mesmo... alguma ilusão que uiva desesperadamente em minha cabeça diz que eu posso ser convencido por um sorriso mentiroso e cheio de intenções doentias. E posso mesmo. Tirar negações de dentro da cartola pra quê? Passei a vida inteira lavando o meu corpo com negações que faziam a minha pele descascar. Deixava cair nos olhos... não ardia, mas mostrava tudo ao contrário. Desta forma, pisando nos meus contrários mais opostos, eu fui moldando a forma das minhas misérias que adoram assistir às criancinhas rodopiando em cavalinhos de um carrossel localizado em hospícios que ficam isolados da cidade. Abraço o surreal com ternura e beijo sua face direita... a realidade joga uma bola pesada em minhas costas e eu conto as minhas aventuras amorosas às plantas que enfeitam a entrada de um cemitério que tem aqui perto de casa. Narro as minhas desventuras sentimentais e infelizes a uma florzinha que nasceu às margens do túmulo de um soldado que traiu a sua pátria. A flor esbanja um dourado único e sabe os nomes de todas as mulheres que eu amei... ela conhece outros nomes também, mas isso não vem ao caso. No dia que ela for arrancada, perderei a minha única confidente. Será uma perda muito grande para mim... talvez a maior. Não é em toda esquina que encontramos uma confidente. Ainda mais sendo uma flor de cemitério. Mas o viado do Pequeno Príncipe tinha uma rosa sem graça e ninguém falava dele. Nem dela. Então pronto!

Desta forma, eu só peço que respeitem as minhas misérias e não ofereçam unguentos para as minhas feridas abertas. Elas apenas cospem secreções amarelas fabricadas no âmago das coisas que eu comi repetindo o mantra "o que não mata, engorda". Mentira dos infernos.

Não me entreguem jornais religiosos. Eu sei sobre Jesus mais do que você.
Não me abordem na rua, no meio do nada, e não digam que existe uma galeria de macumba para mim. Pode até ser... mas eu nem ligo. Sou o tipo de cara que acaricia o sobrenatural com delicadeza e que mija dentro dos despachos malignos só para ver a espuma se misturar às penas da pobre galinha que foi sacrificada. O cordeiro também foi e não adiantou nada. Conversem com Nietzsche antes de dar nomes às minhas loucuras... o remédio pode servir para vocês também. Odeio religião... delas nascem as seitas e isso tudo me faz vomitar alimentos inteiros. 

Lustro os meus sapatos e chuto as bundas dos fanáticos religiosos. Tenho meus desassossegos, mas ainda sou ser pensante. Dou às minhas perturbações personificações femininas e suspiro quando a angustia roda a sua bolsinha dentro de uma esquina qualquer do meu coração que sempre é noite e que sempre chove e que sempre faz frio. Consigo sorrir, com amor, para uma cachorrinho qualquer. Mas por favor, peçam aos líderes religiosos que passem bem longe de mim. Eu não preciso de reza nem de rituais de exorcismo. Não me venham com versículos da bíblia na ponta da língua porque eu te deixo falando sozinho e vou falar mal de vocês para a minha flor de cemitério. E eu falo mesmo.

Eu sempre falo
A minha flor sempre me escuta
Ela nunca fala
Eu nunca escuto.

By Jackson Pedro

In:

Nenhum comentário:

Postar um comentário