sexta-feira, 31 de maio de 2013


Eu sou meio devagar para aprender algumas coisas. Mas sou insistente. Pego a minha teimosia e coloco em um coldre metafórico. As minhas birras eu guardo dentro de uma algibeira imaginária. As granadas de pirraça são dispensáveis, mas eu levo duas, podem ser úteis. Vou para o combate. Pinto o rosto de preto, faço a checagem dos meus equipamentos e finalmente aprendo o que se negava a entrar em minha cabeça cansada e cheia de preocupações com futilidades...
A última lição que eu aprendi deveria ter sido a primeira. Mas como eu disse, eu tenho algumas limitações quanto ao aprendizado. O jargão bobalhão afirma que: "nunca é tarde para aprender". Pois é. É mais ou menos assim...
Eu sempre fui um "cabra" muito emocional. Uma explosão gratuita de intensidades, capaz de picotar bom sensos e jogá-los do vigésimo andar. Não me lembro de ter sido pedaços um dia. Sempre fui entrega. Proteção. Ataque soviético. Explosão de sorrisos e terremotos de grosserias. A intensidade tem dois lados e o sombrio não é nada bom. Aí vieram as análises intermináveis e os mergulhos sem oxigênio dentro de mim mesmo. Dentro dos vales da minha alma eu descobri algumas causas fantasmas e uns efeitos assombrações. Casa mal assombrada em que eu sou o fantasma e o rapaz molenga que se assusta até com uma mosquinha. Coragem-espantalho e covardia-pássaros-que-devoram-milhos. 
O terapeuta me ouvia, ouvia e ouvia. Mexia com a tampa da caneta, coçava os olhos e quando dizia algo, era só um seco e brochante "sei...". Quando ele finalmente me dizia algo, às metades, às avessas, aos escrotismos linguísticos, era coisa rápida que me intrigava. Eu, já sem fôlego, formulava mil perguntas que só precisavam de uma resposta. 
Quando eu sacava um poderoso "por que?", o psicólogo dizia que esse porquê era assunto para o próximo encontro e dizia:

- Pense... O segredo de tudo está no pensar. Use esses quinze dias que temos até o próximo encontro e haja o que houver, não faça nada. Apenas pense... Mesmo quando o gritar for a única solução, pense. Quando a casa pegar fogo, não chame o bombeiro AINDA, pense, pois você mesmo pode apagar o fogo. Se um asteroide estiver na órbita terrestre, não entre em pânico, pense. Apenas pense.

O "doutor" era uma mistura de Mestre Yoda, Senhor Miyagi e Mestre dos Magos. Um oceano de paciência e de palavras "vazias" e "sem sentido". E assim o pensar foi se fazendo. Aprendi que uma fragmentação de mim adorava conversar com o Eu total e completo. Sentávamos em uma mesa em algum boteco qualquer do meu ID e ali nós íamos papeando até o pôr do sol. Depois as nossas conversas varavam as noites... Dei a esses nossos diálogos o nome cafona de pensar. Tudo o que se passava eu consultava o meu amiguinho fragmentado. Não me perguntem como, mas esse ser era a parte de mim que carregava consigo uma sacola cheia de equilíbrio e uma mala repleta de "relaxa, isso não vale a pena". Tive acesso ao material da sacola, mas confesso que o conteúdo da mala me trouxe coisas boas.

Aprendi a lidar com as coisas que eu não gosto. Pai eterno, que luta.
Havia coisas, pessoas e situações que me faziam mal só pelo fato de existirem. Hoje eu tenho uma arma poderosa comigo, chama-se silêncio.
Esse silêncio, bem utilizado, é uma "arma" boa e um ótimo "escudo". Não carece de pólvora e nem precisa ser afiada. Por mais que me amolem...

Pensar... 
Eis o segredo de tudo...

O mal chega de mansinho, coloca as mãos dentro da minha camiseta, acaricia o meu peito, abre a minha calça, faz carícias picantes e ainda cantarola em meus ouvidos colocando os meus nervos a testes que fariam o Eu de antes matar, trucidar, enforcar, empalar, etc e tal... O que eu faço? Eu respiro fundo. Penso (logo existo), respiro fundo e me calo. "Não é de nada, lálálálá... fracote, covarde, mocinha...lálálálálá..." o sangue ferve, o gemido é engolido. Pensar... nada mais que isso.
Em alguns segundos o silêncio se faz uma vez mais e tudo volta ao normal.

Não briguei. Não xinguei. Não fiz nada. O que aconteceu dentro de mim foi mais ou menos assim: aquela parte de mim, que era fragmentada, era a minha razão e o meu controle, hoje essa parte integra o meu Todo e é general das forças de mim mesmo. Eu o promovi.

Hoje em dia nada me tira do sério. Ninguém tem o poder de me descontrolar. Eu posso ficar puto, xingar em pensamento e ainda ficar caladinho. 
Mas não passa disto.

Tio Nietzsche, o bigodudo mais estiloso de todos os tempos me ensinou que

"QUANDO SE OLHA MUITO TEMPO PARA UM ABISMO, O ABISMO OLHA PARA VOCÊ"

In: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário