De cabeça erguida (Dueto)
I
DE CABEÇA ERGUIDA
Caminhava na sombra e seguia
cabeça erguida, pelos atalhos da vida.
Estava fria e vestia amarguras.
Na sua cabeça só o ladrar dos cães,
de todos os cães da sua vida,
que lhe roubaram a juventude.
No desamor, no lume,
nos pais que nunca foram,
nas madrugadas mal dormidas,
no frio do nada – pesadelos,
de cheiros, água- gelada;
do futuro trocado pela vida,
sem escola e sem livros.
Estava sozinha, ia sozinha,
e falava:
Da infância não vivida, perdida,
da menina- mulher.
Do marido que cedo foi e não foi.
Dos filhos – e aquele frio, sempre.
Por eles seguia sem lágrimas
embora o seu corpo ainda jovem
lhe pedisse outros caminhos…
Mas se ela era o caminho!...
Como podia? Não podia.
Por eles seguia na sombra.
Refugiava-se na escrita de sonhos,
hinos ao erotismo que ainda vestia.
Toda ela era sensualidade,
e queria, mas não tinha coragem,
a sua vida de desamor matara o amor.
Seguia triste, sofrida, rude ás vezes,
mas bela.
Só que aquela mulher escrevia,
era toda poesia.
Aquela mulher porque escrevia
metia-me medo, mete-me medo.
E vai só, segura-insegura, mas vai.
De cabeça erguida.
Antonio Alves
22/01/2013
II
De Cabeça Erguida
Alguém viu bem mais do que as palavras
olhou nos olhos vagos-vasos d'água, hipnotizado ficou.
Alguém ouviu um grito não dito
proscrito d'uma garganta serrada-sangrenta.
Alguém leu entrelinhas da fala destemida- maldita,
arroubos de quem sofre ou chora.
Alguém ouviu a linguagem do mudo
visualizando os signo's visceras.
Alguém sentiu medo...
...medo do olhar;
de quem sabe amar,
de quem escreve poesia,
de quem sabe sonhar,
medo d'uma alma faminta
sedente de vida e poetar!
Alguém disse...
...de: Cabeça-erguida.
E aqueles olhos mortíferos espelhos d'alma
reflexos-vestígios de espera-ança
havia uma sobrevida
maior que o mar,
e tinha nome Vida em poesia,
que estava muito além da própria arte.
Pois era a arte e a própria.
Caminhando
cantando
indo e vindo
perdida e encontrada
entre poesias e sonhos!
Geane Masago
(23-01-2013)
Postado por Geane Masago
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