sábado, 29 de junho de 2013


Eu carrego dentro de mim um oceano de sensações que não pode ser explorado... Observo, com entusiamo, as espécies boas e fico horrorizado com os bichos grandes que dominam as águas do meu sentir. Os sentimentos que me assustam são os mesmos que me divertem... explosões de adrenalina que transformam o homem simples, que cheira uma rosa vermelha em uma tarde melancólica de domingo, em uma entidade que é capaz de extrair as pedras renais de seus inimigos e fazê-los comer como se fossem ovinhos de codorna preparados com amor por um cozinheiro apaixonado pelo seu ofício. São as duas faces humanas que jogam baralho dentro da alma e que transpiram trapaças o tempo todo.

O destino, esse velho babaca que acha que pode fazer tudo com todos, é o cara mais injusto que eu já vi. Ele afasta de mim tudo que é importante e me dá de presente, com direito a um lacinho feito com fita vermelha, aquilo que eu mais detesto. Sou obrigado a ver as partes de minh'alma partindo, sempre de costas viradas para mim, levando consigo todo o meu sossego e pedaços grandes de uma felicidade que eu nem sei se foi minha. 
Cinco minutos depois de assistir à sagração da minha infelicidade, eu ouço um som escandaloso vindo de alguma parte da casa. As desgraças surgem em monociclos, fazendo malabarismos com peças do meu orgulho e pedaços de uma dignidade que eu disse que mandaria para o conserto. Mas que autoridade eu tenho nesta casa? o meu papel aqui é apenas viver e ouvir os lamentos de um arrependimento que nunca dorme. Desgraças megalomaníacas que têm em sua boca a conjugação completa e infinita do verbo "comprar". 
O que é ruim em mim fecha os meus olhos e coloca milhares de palavras destrutivas em minha boca. Palavras que trincam os meus dentes e que ferem a minha língua. Lembro do destino... ele é o culpado. Olho para as desgraças saltitantes, ouço o culto às coisas materiais e, mentalmente, mando tudo para o inferno. Engulo o gemido e desfilo na passarela da humilhação. Bebo um remédio que não desce... fica preso em minha garganta. Perco o ar... mas não perco a esperança. Vomito em meus pés. Sujo as únicas bases que eu tenho. O que deveria me curar é aquilo que mais me machuca. 

Tento esquecer o que me faz mal. Infelizmente sou obrigado a engolir a comida que foi mastigada por outras pessoas. A culpa que eu não tenho deita ao meu lado e me encara profundamente. Eu retribuo o olhar. Ela some. Eu gargalho.
Lembro do que é importante para mim e me desespero em saber que não tenho a mesma importância para eles.

Eu estou aqui.
Eles sabem disso.

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