segunda-feira, 24 de junho de 2013

"A experiência é o nome que damos aos nossos erros." - Oscar Wilde



Abra os seus olhos... estenda a sua mão. Não vai doer nada. Venho de um lugar onde a dor é só um acessório que as pessoas fortes usam para viver. Isso, pode encostar a sua mão na minha. As minhas mãos são feias, eu sei... mas não se assuste. Houve uma época que eu precisei rastejar, pois tinha um mundo nas minhas costas e a minha semelhança com Atlas não era mera coincidência. A diferença é que eu deixava para trás um rastro de lágrimas e um caminho manchado de descrença. Isso... tenha confiança em mim e ignore o que é repugnante em meu aspecto. Segure firme a minha mão, sinta a fragilidade da minha pele e controle os nojos que eu desperto em você. As minhas mãos são horrorosas mas são firmes. Por longos anos tentei segurar o que de mim fugia. Veja essas marcas em meus dedos... frutos de uma teimosia que não me deixava quieto. Apertei o que não se pode apertar, estrangulei as minhas vaidades e espremi desejos como se fossem piolhos. As marcas são apenas certificados de erros imperdoáveis. Mas não me olhe com piedade, porque esse sentimento machuca a nós dois e eu sei que você é frágil... pode não se garantir.

Olhe para você... brincando de ser forte com os fracos e correndo para debaixo da cama quando a sombra da desgraça se projeta em seu meio. Não abaixe a cabeça. A desgraça é só uma mulher possessiva que faz de tudo para dormir com o seu progresso. O problema é que ela não respeita regras e vai despenar a sua confiança até deixá-la moribunda por aí. E quando você estiver largado no chão ela vai sambar sobre a sua cabeça e mijar em seu rosto estúpido. Não sinta medo do que eu te falo mas alimente o seu pânico diante de palavras vazias ditas em momentos em que a empolgação brinca de bambolê com os seus falsos ânimos. Coloque palavras de ordem dentro do seu espírito desordenado. Deixe a sua curiosidade desassossegada e perturbe a sua ambição com instrumentos morais, banhados com um dourado fabricado nas caldeiras de uma ética inabalável. Não enxergue defeitos na tranquilidade dos outros, pois você só enxerga isso do corpo para fora e nem imagina o que se passa por dentro. Isso... levante-se. Tire das costas os pesos e deseje a leveza. Jogue a pedra de Sísifo no saco de Zeus e jamais deite-se na cama de Procusto. Jogue as convenções bestas para os ares e cuspa na cara da tua arrogância. Olhe nos olhos do teu medo e dobre a aposta quando ele blefar.

Nós nascemos com dois medos apenas: o medo de cair e o medo do barulho. Os demais foram presenteados pela ignorância, uma velha enrugada que anda por aí espalhando gordura nas artérias do bom senso...
Você está de pé. Agora respire fundo... encha os seus pulmões de poluição e expulse os elementos puros de seu organismo. Pureza demais estraga. Veja ao seu redor... se o mundo fosse perfeito nós entraríamos em colapso. Carregamos o caos dentro da alma e temos o poder de transformar ouro em merda. Somos o avesso do charme de Midas. Bolo fecal de uma humanidade atrasada. 

Olhe para você agora... perceba que você tem mais marcas do que eu. Olhe as suas mãos... estão sangrando. Seque isso com o tecido de suas determinações. Queime os mandamentos que te aprisionam e cuspa no olhar daquilo que te paralisa. Karl Marx já dizia que o ópio do homem é a religião. Acredite em você. Você é o seu Deus, mas governe a sua alma com os conselhos do demônio. Ele é muito útil no plano de governo de si mesmo. Faça o que lhe disser, mas use Deus para gerenciar as suas atitudes.

Agora receba de minhas mãos o seu acessório básico: a dor. No início ela pode até incomodar, mas com o tempo você nem a sentirá mais. É assim com todo mundo. Você atingirá o meu status quando esquecer a existência desse acessório preso a você. Lembre-se que o acúmulo de uma coisa só causa colapso. É preciso dosar o bem e o mal em medidas homeopáticas.


"A experiência é o nome que damos aos nossos erros."
(Oscar Wilde)

By Jackson
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