segunda-feira, 24 de junho de 2013



Ando pelas ruas na esperança idiota de que isso acelere as rodas do tempo e tire da minha cabeça o peso insuportável que só os domingos têm. Eu caminho por lugares melancólicos e assisto ao espetáculo do comércio com os seus sorvetes coloridos que encantam as crianças e as máquinas que rodopiam os frangos assados que garantem a reunião das famílias que acham que tudo na vida se resume em comer bem e beber muito. Eu não como nem bebo... a única coisa que eu queria mesmo era dormir até o alvorecer da segunda-feira e pular essas convenções sociais que os domingos distribuem de maneira estúpida.

Sento em um banquinho de uma praça qualquer. Estou sozinho no local. Contemplo o firmamento azul que me causa náuseas. Mas eu não desvio o meu olhar. Tenho tara por coisas que me fazem mal. Olhe ao meu redor, veja que tudo o que eu mais venero são as coisas que beliscam os meus sentidos... pessoas que matam o meu orgulho asfixiado com o travesseiro de uma virtude cancerosa e ainda estrangulam a minha consciência com uma distribuição única de uma culpa infinita. Eu respiro tudo o que o domingo me oferece e penso...
O silêncio é quebrado por um som que se assemelha à linguagem dos anjos.

- Bom dia...
- Bom dia.
- Posso me sentar ao seu lado?
- Claro. Fique à vontade.
- Desculpe chegar em você desta forma. Eu vejo que o assustei.
- Assustou não. Foi apenas um reflexo involuntário do meu corpo.
- Que bom... obrigada. Eu preciso conversar com alguém. Estou vivendo desassossegos que estão esmagando a minha alma...
- Desassossegos? hummm... essa palavra me é familiar. Pode falar, o que está acontecendo com você?

Era uma mulher belíssima. Sua pele era de um branco brilhante e havia um cheiro de jardim em seus movimentos. Os cabelos, muito pretos, eram fascinantes e o seu sorriso mostrava a perfeição de seus lábios finos, porém suculentos. O seu olhar buscava abrigo dentro do meu e a sua voz tinha um quê de sinfonia. O tom era triste como os solos dos violinos que executam uma elegia qualquer. Notei que as suas orelhas tinham brincos com as claves de sol e havia um outro furo, mas não consegui identificar a figura do brinco.

Ela ainda não começou a contar a sua história, mas eu já desejava essa mulher com todo o desespero que se possa imaginar. O semblante triste fazia desta mulher um ser único e a melancolia do seu olhar despertava em mim as paixões mais desesperadas... Enquanto ela estava ao meu lado, construindo mentalmente os seus discursos, eu tive vontades desassossegadas de abraçá-la, entrelaçar os meus dedos aos seus e andar sem rumo por aí até que o domingo fosse enterrado.
Ela virou o seu pescoço em minha direção. Meu coração estava quase na boca. Ela sorriu e eu tive a sensação de estar diante de um anjo branco com os cabelos negros.
Ela gostava de roer as unhas. Olhou para as minhas mãos e disse:

- Você também rói as unhas? Que gracinha...

O silêncio era absoluto. Eu achava que forçar a quebra do seu silêncio não seria uma atitude das mais elegantes. Dei a ela o tempo necessário para falar e enquanto ela tirava uma mecha de cabelo dos olhos, eu a admirava com todo o poder da minha imaginação. Dentro da minha mente, eu me via viajando ao seu lado... comprando presentes para arrancar daquela boca apenas a visão de ver os belos dentes brancos. Sim... o encanto era tanto que eu poderia casar com ela naquela mesma hora, mesmo sem saber nada ao seu respeito.

- O que houve com você? o seu pensamento está tão distante... o que está acontecendo?
- Sinto uma dor muito profunda em meu peito. Preciso desabafar, mas as palavras estão acorrentadas dentro de mim.
- Não escolha as palavras, querida. Apenas liberte os seus desassossegos.
- Vou tentar.

As lágrimas microscópicas que estavam presas ao seu olhar triplicaram o meu encanto e a minha paixão.
De repente, passos apressados e barulhentos se formam a nossa esquerda. Vários passos...

- Mamãe... você sumiu. Estávamos te procurando.
- Oi meus amores!
- O papai está te procurando. Ele está muito preocupado com você. 
- Onde ele está?
- Passou na padaria para comprar uma latinha de cerveja... ele já deve estar chegando aqui.

...E assim ela se foi. Não disse nem mesmo um "tchau" ou um "até logo".
Com uma obediência desesperada ela se virou e segurou nas mãos das duas meninas. Eu fiquei observando a cena na esperança de vê-la olhar para trás. Ela não olhou. Simplesmente virou a esquina e levou consigo todos os seus desassossegos.

Eu continuei sentado no mesmo lugar, respirando aquele cheiro de jardim que saiu de seu corpo.
Olhei para o céu, com indignação, e perguntei:

-POR QUE?

By Jackson
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