quarta-feira, 1 de maio de 2013



O seu grito foi escandaloso. Ordenou que eu fosse embora. Eu, que nunca fui de partir, acabei indo. Não por vontade própria, mas pelo efeito "pé na bunda" mesmo. Eu sou do tipo que faz massagem cardíaca em defuntos. Mas aquele cadáver não tinha jeito mesmo.
Fui. Com os sorrisos que pareciam que estavam presos a uma esteira rumo a uma serra elétrica, daquelas giratórias... Os gritos ecoaram em minha cabeça por diversos dias e todas as noites. Uma sensação de vazio tomou conta de mim.
Eu simplesmente fui.
Eu, que nunca fui de desistir.
Nunca desisti de um morto.
Eu... Massagens cardíacas em cadáveres...
Serra elétrica. Sorrisos. Noites brancas. Vazio. Esteira. Gritos.

-Alô, Literatura Do Desassossego, é você?
-Sim. O que você quer?
-Eu estava pensando... fui grossa e irracional com você naquele dia. Volta para a nossa casa. A cama está tão fria. Ainda tem roupas suas por aqui. Traga o resto e venha.

O final desta história eu não ouso contar.


Literatura do Desassossego

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