quarta-feira, 1 de maio de 2013

APONTAMENTOS À MARGEM PARA DESMARGINAR – V

BIODIVERSIDADE E EFEITO BORBOLETA

“Como é evidente, não é preciso dizer que a viabilidade econômica limita a margem daquilo que pode ou não ser feito a favor da terra. Sempre foi e há de ser assim. A falácia que os deterministas econômicos nos amarraram em volta do pescoço coletivo, e que necessitamos agora de eliminar, é a crença de que a economia determina TODO o uso da terra. Isso simplesmente não é verdade. Uma grande quantidade de ações e atitudes, incluindo talvez a maior parte de todas as relações com a terra, é determinada pelos gostos e predileções dos utilizadores mais do que pela sua bolsa. A maior parte de todas as relações com a terra depende de investimentos de tempo, previsão, capacidade e fé mais do que de investimentos em dinheiro. No que se refere à utilização da terra, somos o que pensamos.” (In ALDO LEOPOLDO, A Ética da Terra)

Havendo inegável valor intrínseco em cada uma das formas de vida conhecidas (biodiversidade), independentemente do interesse que possam ter para a espécie humana, a não instrumentalização das entidades holísticas como os ecossistemas e a ecosfera, cujo equilíbrio exige ponderação no balizar das atividades humanas, porque o que for feito, desfeito, neutralizado, ativado, implantado ou retirado de um local tem, diretas ou indiretas, consequências também noutros lugares (efeito borboleta) mais ou menos distintos do planeta, apresenta-se como a única atitude plausível para manter (e recuperar) a sustentabilidade global. Não só porque o respeito por cada indivíduo é extensivo e acarreta igual respeito pelo ecossistema em que se integra, mas igualmente porque ele é parte integrante de uma organização avançada sócio-biológica-econômica (genes, espécimenes, espécies, ecossistemas), que fica inequivocamente alterada tanto com a sua presença, como com a sua ausência, e em (pro)porções similares. 

Por conseguinte, pugnar por uma democracia direta, participativa e de base requer o acesso universal à informação e às novas tecnologias da comunicação, à tomada de consciência coletiva dos fatos e problemas de cada qual e de todos, bem como uma diferente responsabilização do cidadão pelo seu habitat, num díspar envolvimento na assunção individual e pública da cidadania, da igualdade de gênero e do respeito (legalizado) pelos animais, no âmbito de uma mentalidade que não abdica dos seus direitos nem do poder natural de quem é outorgado legítimo herdeiro e proprietário, parece ser a maneira mais racional e eficaz de contemplar (socialmente) a importância essencial pela biodiversidade e os efeitos sistêmicos da ação humana. Por milhentas razões e argumentos, mas principalmente porque “somos o que pensamos” e, se é indesmentível que hospedamos um número infinito de seres vivos no nosso corpo, não o é menos que sempre que um deles é molestado, ou adoece todo o nosso ser é inegavelmente afetado, nomeadamente pelo antídoto que nos for aplicado. 


J Maria Castanho


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