Eu queria ter ânimo para fazer algo grandioso hoje, mas os meus pensamentos amarraram as minhas atitudes na cama e deixaram o cadeado aberto. Mesmo sabendo que ele se encontra destrancado eu repito a mim mesmo, compulsivamente, que está trancado. Olho ao redor, faço cara de sofrimento e afogo todas as minhas decisões bêbadas em prantos imaginários e carrego no peito todas as formas possíveis de uma piedade mórbida.
Olho ao meu redor e vejo que todas as coisas que compõem o quarto ainda carregam as marcas dos meus sorrisos disformes de ontem que ainda machuca. Expressões faciais causadas por sensações que amanheceram mortas nesta sexta-feira e que estarão cremadas amanhã. Quando a doença chega, as caixas de remédio vêm infalivelmente... Inúteis, devo admitir. Não há cura para o que já nasce morto.
Palavras... Sensações...
Tentativas tontas de descrever o peso do viver. Sensações de sujeira ao proferir palavras educadas aos seres que me causam repugnância. Não por serem repugnantes, mas por despertar em mim tal sentimento. Fatio em pedaços pequenos cada tablete de mágoa que possuo. Faço recortes dos meus medos. Molho os jardins de coragem, que não tenho, com as águas de um silêncio forçado que fui obrigado a manter por pensar demais nas pessoas que rasgam a minha carne apenas por diversão. Medo? Receio? Covardia?
Quando se é doente, os remédios estão sempre ao alcance dos braços. Uns têm os braços longos, conseguem pegá-los com facilidade. Os meus braços são curtos. Eis o problema.
Literatura do Desassossego
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