APONTAMENTOS À MARGEM PARA DESMARGINAR – IV
EQUILÍBRIO OU ETERNIDADE?
Até há poucas dezenas de anos a humanidade, na sua quase generalidade e graças ao concurso das diferentes ideologias, economias e religiões, entendia o ambiente numa perspetiva antropocêntrica, em que a natureza se apresentava apenas como um valor instrumental associado a um leque de potencialidades e benefícios, nomeadamente estético, histórico, científico e econômico Era fonte de estímulo para a criatividade e imaginação, bem como um contributo significativo para o desenvolvimento integral do ser humano.
Mas as mentalidades, em consequência dos progressos no bem-estar e condições de vida, científicos e tecnológicos, evoluíram, e hoje a tendência global edita-se numa compreensão do meio ambiente sob duas perspetivas distintas, embora que simultâneas: o biocentrismo e o ecocentrismo. Isto é, considerando que é a vida ou o ecossistema quem tutelam a narrativa na interpretação essencial do valor atribuído à natureza, enquanto suporte principal do ambiente. Com Copérnico e Galileu a Terra deixou de ser o centro do universo; com o Relatório de Brundtland (1987) findou a era da supremacia humana na Terra. A mudança teve efeitos irreversíveis, e obrigou à reciclagem de todas as teorias de entendimento da casa (eco) de todos nós, de modo a que este não só se demonstrasse mais lúcido, objetivo, rigoroso, lógico, ético e funcional, mas também mais abrangente, de forma a reconhecer que sem a preservação da diversidade das espécies é impossível um equilíbrio sustentável do planeta.
Na perspetiva biocêntrica somos apenas mais uma das estratégias da vida para se tornar eterna. Na perspetiva egocêntrica somos tão-só membros de uma espécie que interage com as demais na tentativa de manter equilibrada a sobrevivência do ecossistema terreno. Na prática, as duas se completam e exigem-nos que observemos cuidadosamente a nossa conduta porquanto se fizermos perigar o equilíbrio perdemos o comboio da eternidade, porque na autoestrada da continuidade da vida somos o veículo que melhor a percorre, desde que o façamos com tino, segurança, equilíbrio e sustentabilidade. A escolha a cada qual pertence, mas o que é certo, é que aquela que cada um fizer vai ter consequências (irreversíveis) na vida dos demais.
J Maria Castanho
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