quarta-feira, 6 de junho de 2012

QUANDO O PALHAÇO CHOROU...





A noite ia alta e o meu estômago se contorcia no vazio que há muito se mantinha. O sereno, como que acumulando todas as gotas numa única folha, fez questão de esparramá-las sobre minha cabeça dando a impressão de que a natureza conspirava contra mim. Voltei meus olhos para o alto e me assustei ao ver a bela e meiga criatura estendendo a mão em minha direção. Foi assustado que eu achei que a conhecia, só não me lembrava de onde. Talvez fosse de um lugar distante, longe de tudo o que conhecemos, como uma galáxia habitada por seres do bem. Um povo sem distúrbio de caráter, sem espírito de grandeza ou de inferioridade. Um lugar que não houvesse pobre e nem rico. Um fantástico mundo de magia. Custei, mas me lembrei que ela era a fada madrinha dos meus sonhos e para a minha felicidade meu anjo-da-guarda em todos os pesadelos. Os meus sonhos eram os únicos lugares aonde eu me via com as melhores roupas por conta dela. Os mais confortáveis calçados por causa dela e no meu rosto o brilho de uma felicidade sem tamanho que jamais se apagou por causa dela. Enquanto eu me esforçava para lembrar de onde a conhecia ela se manteve com a mão estendida em minha direção.

- Apoiei o meu sorriso no sorriso dela e na sua mão eu depositei a minha para erguer, já com certo sacrifício, o que sobrou da minha fé. Foi desajeitado que fiquei de pé diante dela. Seu perfume era o mesmo dos nossos “encontros”. Perfume que mais parecia solo de violinos do que todos os jardins florindo ao mesmo tempo como fazia crer aquele instante. Enfeitiçava os sentimentos dos quais alguns, há muitos e muitos anos saber deles eu não queria. A sua beleza navegava na paz do azul dos próprios olhos. Paz que banhou meu corpo como as gotas do orvalho banham o jardim na primavera.

Minha mão agora presa à sua, ela apertava contra o próprio peito. Um dos braços se deitava no meu ombro logo que uma bisnaga com salame e queijo, dela eu aceitei. Cortei depois de um gesto de consentimento a refeição em cinco pequenas partes. As únicas daquele dia e a cada um dos meus iguais eu dei o seu pedaço. Antes da primeira mordida todos aplaudimos com palmas o gesto daquela santa. Poucas palmas, mas o suficiente para comover a vizinhança que desceu de seus apartamentos para distribuir, enquanto quente, um pouco de suas sobras aqueles a quem a sorte virou as costas. Todos comemos para sobre a cama de papelão, cada um de nós deitar para conciliar o mais gostosos de todos os sonos, e eu, o melhor dos que já dormi.












Um comentário:

  1. .


    A sua homenagem a um amigo
    romântico e sensível como
    eu e as propagandas da
    Credicard, não têm preço.

    Um beijo emocionado e mui-
    to obrigado.

    silvioafonso






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