quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Desassossegos...

Como se colocasse em prática um exercício para distrair a minha impotência, eu destranco a velha caixa preta de recordações e deixo a fumaça roxa e açucarada dos meus saudosismos tomar conta do quarto sem cortinas em que me encontro. Enquanto a vapor envolve o meu corpo e acaricia cada átomo da minha pele, eu noto os rituais incansáveis dos retornos saltando em minha frente, como um balé de sombras brancas que executa coreografias repletas de despedidas negadas e abandonos gratuitos. Ando em círculos e circulo vertigens pelas linhas desbotadas de um caminho conhecido, mas evitado como se fosse o rumo de mil mortes. Observando com ternura as pegadas dos que já foram e não olharam para trás, choro um escândalo silencioso. Engulo os gemidos e faço dos sorrisos amarelos um avental bonito que uma mãe zelosa usa para fazer biscoitos para o filho medíocre. Faço bolinhos com a lama dos meus prantos no chão e ergo castelinhos em que imagino cenas de uma nobreza fundamentada em valores que a decadência sugou como se fosse água da chuva engolida pelo solo que já não aguenta mais beber lágrimas dos que lamentam silenciosamente.

- Você precisa acreditar em mim...
- Não... eu não quero.
- Mas se você for, o que vai ser de mim?
- Ninguém morre de amor, não... pode doer um pouco no começo, mas depois passa.
- Não. Não vai passar.
- Tchau.
- ...
Ela estava errada: Não doeu um pouco.
Ela continua errada: Eu morri sim.
Ela estará sempre errada: Quem disse que passou?


By Jackson

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