Nas águas melancólicas do domingo eu mergulho de cabeça...
sei que esse mergulho deixará as águas mais tristes e desassossegadas. Eu fico ali quietinho. Nem preciso prender a respiração por muito tempo. Submerso... sem pensar em nada. Apenas contemplando a luz do sol que se parte em mil pedaços dentro das águas inexpressivas deste domingo idem.
Na superfície, em terra firme, não há nada que ofereça tesão em estar vivo. Todos os dias são iguais. Não há eventos que tragam novidades ou mesmo a supressão de algumas arrobas do existir que carrego comigo aí pelo mundo. Estou no corpo errado. Na casa errada.
Talvez no mundo equivocado.
Quando se é um conjunto de fragmentos ambulante,
o espaço em volta machuca.
Quando se é um bloco de melancolias estáticas, o único
tempo existente é o passado.
O espaço comeu o tempo. E me vomitou neste cenário bizarro que o poder das minhas escolhas me lançou. Sou a personificação do anacronismo. Vivo o hoje tentando resgatar sensações moribundas de um
ontem que eu não me conformo que morreu.
Eu sempre faço massagens cardíacas em defuntos. Nego a aceitação de que defuntos bons devem ser enterrados. Minha alma é um vasto campo cheio de cruzes: cemitério metafórico de anacronismos... coroas de flores enfeitando jazigos de defuntos que falam dentro de mim a língua do "podia ter sido"...
Não sinto saudades de ninguém... sinto apenas saudades de quando eu não tinha o peso em minhas costas, como uma mochila que faz parte do meu organismo, como uma tartaruga desgraçada que carrega o casco do ser e do estar. Tenho saudades de quando o peso não era meu.
Quando o peso deixou de ser meu.
Perturbo-me e acalento-me.
Sou capaz de andar por aí e ver, de longe, alguns lugares que foram cenários de momentos de felicidade em minha vida. Eu adoro ver as casas onde morei. Elas sempre passam por reformas. O mesmo não acontece comigo. As reformas que a vida me oferece são sinônimos de implosões, de ruínas, de algo que oscila entre a destruição parcial (da esperança)
e a destruição total (da fé).
Perambulo por aí até sentir um desejo explosivo de transformar todos esses sentimentos em letrinhas lavadas com lágrimas desossadas
de um frigorífico clandestino de pesares.
As águas melancólicas do domingo são tão charmosas... descubro que estas águas não passam de lágrimas que eu derramo de segunda a sábado e só no domingo eu me permito mergulhar. Me afogar. Realizar o meu batismo semanal na religião da frustração apostólica romana.
Tenho saudades do meu futuro e já sinto um tremendo pesar em saber que um dia ele será parte de um passado que morrerá em meus braços.
É sempre assim...
Jackson - Literatura do Desassossego
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