Pego as nossas lembranças que envelhecem despercebidas dentro daquele baú que você mandou para mim, obrigando-me a cuidar dele com um zelo que amiúde arromba as portas da loucura e pisa com os pés lamacentos na cerâmica branca de um bom senso que foi enterrado como indigente...
As lembranças são pequenas peças de um recordar que espinham a calda da minha memória infartada e que teima em
respirar porque o tal baú é uma bomba infinita de oxigênio.
Parecida com aquelas que existem em aquários...
Lembranças oleosas que escorrem pelos meus dedos
e deixam marcas vermelhas em minha pele.
Elas estão lá dentro, semeando vertigens e colhendo esquizofrenias
que usam tranças ruivas.
Não podem ser tocadas.
Nem devem.
O baú nem está tão cheio assim, mas é pesado.
Intensidade pesa mais que tamanho e ocupa menos espaço que os esqueletos de palavras que não foram ditas...
O tocar machuca a pele...
irrita os olhos que já são chorosos por natureza.
A contemplação ociosa faz o cenário girar.
O olhar capta cheiros, resgata sensações,
mistura os sentidos, revira o pensamento.
Algo sacana sapateia no tablado das minhas saudades.
Fred Astaire que dança com ereções descaradas e nem liga
pro volume de suas picardias...
A culpa é do tal baú.
Ele é o culpado.
Olho para as minhas mãos e lembro da exploração infinita de suas curvas. Eu, deitado de ladinho, plantando impressões digitais em sua pele.
Sentindo o gosto de cada milímetro cúbico de seu corpo.
O suor por fora de seu corpo.
Os fluídos secretos por dentro.
Explosão de sabores em meu paladar.
A sensação de lamber o céu.
O amor supremo transformado em paladar.
Sensação de morder a ponta de uma estrela e usar creme extraído das explosões do sol em minhas costas.
Meu peito é era uma galeria de mordidas.
Calçada da fama da boca que girava todos as minhas sensações como se fossem furacões intermináveis.
Saudades do que pouco que foi...
Do eterno que durou pouco...
O baú... ele precisa ser destruído.
Não podemos misturar perfumes.
Ou um ou outro.
Em toda história do universo já foi provado que a união de duas ou mais fragrâncias causa mal e pode destruir todo o contínuo de
esperanças de felicidade.
E agora?
Tchibum!!!!!
Adeus baú.
Adeus lembranças.
Jackson - Literatura do Desassossego
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