quinta-feira, 23 de maio de 2013



Sou um depósito ambulante de tristezas. Uma passarela onde a moda "desgraça 2013" é ovacionada com todos os méritos pela sua coleção esplendida e ousada. As modelos desfilam com um charme moribundo. Pai, mãe, irmã... tudo ali, magérrimos, porém segurando entre os dedos uma postura cheia de moscas verdes e com um cheiro de virtude mal passada. Passinho na frente de passinho. Um chafariz de sujeira. Uma fonte infindável de lições de moral repletas de infecção hospitalar de um pronto socorro que só socorre a estupidez e salva as vidas dos injustos, dos cegos, dos aleijados, das cadelas sem nome.
Sou filho da acusação deslavada e da personificação masculina das reclamações mais infundadas e sem sentido... se é que alguma vez houve fundamentação em reclamações. Atestado de incompetência, diploma de impotência, declaração de uma fé que cambaleia pra lá e pra cá, mas que não tem o mérito de cair... cair é uma ação nobre demais que remete à aceitação da fraqueza e superação da mesma. Humildade escrita com sangue. Caroço de fragilidade espremido na mão, sem luvas de borracha. O uso de luvas é dispensável quando se carrega por dentro o que se evita por fora. Doenças da alma que rodam bambolê com as doenças do corpo. Chuva rubra de culpas, vendavais negros de inveja... um estiar de afirmação de uma tolice que tem as suas estruturas fincadas nas profundezas do "eu preciso ter". Saio de casa. Arranco a mordaça que me silencia e impede os meus gritos em busca de um socorro que vem à nado e que nunca chega.
Desgraças em forma de DNA que correm em minhas veias. Espirais genéticas que não podem ser retiradas de mim. Maldição dos nomes que sou obrigado a carregar em meus documentos e que serão herdados pelos meus filhos. Os nomes sim, mas a estupidez NÃO. Uma mulher velha distribui panfletos repletos de culpa. Ela dança no ar com seu ar de"coitadinha" e lança os seus papéis sobre minha cabeça. Uma explosão de avareza e de inveja. "Olha a culpa aê gente... três dúzias por um sorriso sincero. Se houver esperanças, leva o dobro". Fecho os meus ouvidos e ignoro a proposta.
Palmatórias que acertam as minhas faces quando abro a boca e expresso um ideal libertador. É proibido pensar, diz o aviso que eu li. Li mas ignorei. Eu sempre ignoro o que me faz mal. Antes eu até brigava, gritava, xingava e reclamava (DNA gritando dentro das minhas células), hoje, tendo o lado tosco domesticado e amansado, eu apenas olho, engulo a saliva como se fosse uma bola de bilhar, jogo um cobertor molhado nas chamas da loucura e em frações de segundos eu bocejo com um tédio irônico e simplesmente ignoro as minhas origens. Sigo. Eu sou obrigado a ser eu mesmo, mas não preciso ser o mesmo para sempre. Muito menos ser aquilo o qual eu não nasci para ser.
Covarde, grita a obesa sem futuro e sem perspectivas e cheias de teorias sobre a existência. Livros? Cinquenta tons de inutilidade. Rodopios de inexpressão. Um levitar de arrogância e meio metro de bucho que foge de dentro da camiseta. Eu poderia acertar a bola de bilhar metafórica dentro da caçapa denotativa de seu umbigo fractal.

Viro as minhas costas e sigo a minha andança sem fim. Não digo nada porque o meu dizer não toca os ouvidos de tais pessoas. Zaratustra, meu filho, hoje eu te entendo. Na verdade o entender é notório.


Jackson - Literatura do Desassossego

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