segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Andorinhas e os outros Pássaros - La Fontaind


Uma andorinha bem viajada muito aprendeu por onde andou: quem muito viu tem muitas lembranças guardadas. Acabou se diferenciando dos outros pássaros: tinha uma sabedoria que os outros não tinham e desenvolvera a capacidade de prever os perigos, por menores que fossem. 

Um dia, ao ver o camponês semear o cânhamo, ela sentiu o perigo que ameaçava os pássaros. Reuniu todos e os alertou sobre a ameaça que pairava sobre eles: as maquinas, as armadilhas, os homens querendo matá-los ou aprisioná-los em gaiolas.

Os pássaros zombaram dela dizendo que era nos campos que encontravam os alimentos.

Quando as sementes brotaram, novamente a andorinha experiente aconselhou-os:

— Arranquem broto por broto do que o maldito grão produziu, ou pagarão caro pela sua ignorância.

Os pássaros não acreditaram nas palavras da andorinha e chamaram-na, zombeteiramente, de profetisa do azar, de língua sem trave. Mas a sábia andorinha insistia:

— Colocarão armadilhas e vocês serão presos, pois, diferentemente dos patos e das outras espécies que migram, vocês não têm condições de procurar outros mundos. Não fiquem confusos, às tontas: recolham-se aos ninhos, ou mudem de clima. Façam como as cegonhas: no final das contas, fujam pelo alto, por cima. Não tentem caminhos incertos: escondam-se nalguma brecha da parede.

Os pequenos pássaros ouviam sem nada entender, assim como os troianos ouvindo a sibila prever o triste final que os aguardava.

Dito e feito: um numero enorme de aves o homem encarcerou.

Só se escuta o que se acha mais conforme, e só se crê no mal quando ele já chegou.

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