Uma andorinha bem viajada muito aprendeu por onde andou: quem muito viu tem muitas lembranças guardadas. Acabou se diferenciando dos outros pássaros: tinha uma sabedoria que os outros não tinham e desenvolvera a capacidade de prever os perigos, por menores que fossem.
Um dia, ao ver o camponês semear o cânhamo, ela sentiu o perigo que ameaçava os pássaros. Reuniu todos e os alertou sobre a ameaça que pairava sobre eles: as maquinas, as armadilhas, os homens querendo matá-los ou aprisioná-los em gaiolas.
Os pássaros zombaram dela dizendo que era nos campos que encontravam os alimentos.
Quando as sementes brotaram, novamente a andorinha experiente aconselhou-os:
— Arranquem broto por broto do que o maldito grão produziu, ou pagarão caro pela sua ignorância.
Os pássaros não acreditaram nas palavras da andorinha e chamaram-na, zombeteiramente, de profetisa do azar, de língua sem trave. Mas a sábia andorinha insistia:
— Colocarão armadilhas e vocês serão presos, pois, diferentemente dos patos e das outras espécies que migram, vocês não têm condições de procurar outros mundos. Não fiquem confusos, às tontas: recolham-se aos ninhos, ou mudem de clima. Façam como as cegonhas: no final das contas, fujam pelo alto, por cima. Não tentem caminhos incertos: escondam-se nalguma brecha da parede.
Os pequenos pássaros ouviam sem nada entender, assim como os troianos ouvindo a sibila prever o triste final que os aguardava.
Dito e feito: um numero enorme de aves o homem encarcerou.
Só se escuta o que se acha mais conforme, e só se crê no mal quando ele já chegou.
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