segunda-feira, 10 de junho de 2013



Frio, muito frio...
O vento envolve o meu corpo com uma tremenda paixão... Causa em mim sensações semelhantes àquelas que se tem quando alguém brinca de passar as unhas nas paredes, só que com um grau de agonia mil vezes maior. Eu sinto que a manhã tem mil dedos pontiagudos que arrancam pedaços grandes de coisas que estão dormindo dentro de mim. Coisas que deveriam ter sido colocadas na lata de lixo que fica no cantinho da sala de estar da minha alma, próxima à porta. Mas eu sou assim... não jogo o lixo fora esperando que algum processo mágico o recicle. Da mesma forma eu cuido do cemitério que há em minha cabeça. Eu não enterro os corpos, deixo-os dentro dos caixões, na expectativa doentia de que eles voltarão à vida. Eu sou assim mesmo, uma ópera com dez atos e mil absurdos. Há nuvens negras no céu. O vento leva a chuva que existe nestas esponjas escuras para bem longe de mim. A vida é assim comigo: leva para longe as coisas que eu gosto. 
Quando a vida me retira algo eu confesso que fico mal. Quando o "algo" vai embora por vontade própria, eu fico pior. Existe dentro de mim, exatamente no lado esquerdo do peito, uma dor que não dorme, que não sossega. Esta dor me acorda no meio da madrugada e pula corda com as minhas saudades e eleva toda a sensibilidade das minhas emoções. Ela dança para mim como se fosse uma odalisca que enfia os dedos em meus olhos e cospe dentro da minha boca um líquido amarelo com gosto de pneumonia. Eu me arrasto e ela segura os meus pés. Distribui câimbras pelo meu corpo e transforma o meu semblante em algo bizarro, que oscila entre a agonia da miséria e o esplendor do declínio. Pensamentos ruins crescem em minha mente... falta-me o ar. O dia é difícil, mas a noite é um intervalo entre o desejo de morrer e a vontade de matar. Uma descarga passional. O desejo de estrangular a dor e asfixiar o objeto que a desperta. Mentira. A vontade mesmo é de jogar a dor fora e abraçar a sua causa... mas abraçar desesperadamente, alcançando assim as esferas mais insanas de uma proteção tão eterna quando o esfriar dos ânimos.

Sim... quando a dor vai embora e o ser que a despertou está de volta, não existe essa proteção. A dor vai, mas pasmem, a lembrança da dor fica e este recordar é muito pior que o próprio doer. Acho que é isso o que as pessoas chamam de rancor...

- Que bom que nós voltamos. Eu senti a sua falta.
- É... eu também senti.
- O que você tem? Parece distante...
- Não, não... está tudo bem.
- Você ficou com alguém neste período?
- Eu? Claro que não. Eu nem ao menos consegui viver direito.
- Eu fiquei com alguns caras, mas nenhum deles é igual a você. 

Há coisas que devem ser enterradas, pois não ressuscitam. Há lixos que precisam ser jogados fora, pois não há magia capaz de reciclá-los.

Jackson
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