sábado, 15 de junho de 2013



Eu não me lembro de muita coisa... sei que eu estava sozinho em um bar, tinha uma mesa com algumas mulheres... uma delas sorria para mim. Não sei como ela foi parar em minha mesa e não faço a mínima ideia de como eu fui parar em sua cama. São lembranças vazias e abstratas. Já encurralei a minha memória várias vezes e a única prova real que ela me deu foi a visualização de um quadro em que eu ouvia os gritos da mulher que estava comigo... gritos misturados com sussurros e uma sensação de que o meu coração parecia querer sair pela boca. Um calor vulcânico que parecia que a cama estava dentro de um forno. Lembro que eu disse a ela: "vou desmaiar". 

Encontro-me preso dentro do mundo dos sonhos. O meu rosto está encharcado de suor e a minha pele está fria. O chão parece gelatinoso e eu não vejo nada. Não há luz. Encontro-me sentado em uma espécie de pedra, mas como tudo que acontece no mundo dos sonhos é confuso, não sei se é uma pedra, assim como nem tenho certeza de que estou sentado. A única coisa que eu sei mesmo é que estou sonhando. Acho o cúmulo do tesão sonhar e dentro do sonho ter a consciência de que tudo não passa de um sonho. Talvez seja a negação da realidade... sei lá. Ando pela escuridão. Tenho medo de cair. Não esbarro em nada. Não encontro ninguém. Não há sons. É como se eu fosse um astronauta perdido na vastidão do espaço sideral.
Ando em busca de uma saída. O breu machuca a minha visão. Percebo que não preciso manter os meus olhos abertos. A percepção da passagem do tempo se misturou ao vazio. Posso estar aqui há horas... anos... séculos...
Paro em um lugar e pela primeira vez ouço vozes. Uma mulher canta alguma coisa. Sua voz é doce. Sua música é chata. Grito com a voz e ela me ignora. Está tão próxima... mas tão distante. Sinto o cheiro forte que vem de algum lugar. Corro. Alguém segura o meu pé... Escapo. Entro em pânico. Pela primeira vez neste local, eu caio... pela milésima vez nesta vida, eu choro.

Mergulhado em meu pranto mais desesperado, noto que surge uma porta em minha frente. Engulo o choro e toco na maçaneta. Antes de fazer o movimento circular para abrir, a porta desaparece e surge em um ponto mais distante. Caminho até ela com empolgação. Faltando três passos para chegar, ela desaparece uma vez mais. Em local mais distante ela aparece novamente... o meu medo torna-se a minha sombra... juntos vamos à porta. Ando por muitas horas até chegar ao meu objetivo, que mais uma vez, desaparece. Fecho os meus olhos e percebo que a tal porta voltou e está muito longe. Vou até lá. Sinto frio e a fome me incomoda. Dias de caminhada... percebo que a porta torna-se mais próxima. Paro, olho, esfrego os meus olhos com as mãos sujas de escuridão e vejo que ela ainda está lá. Salto e agarro o vazio. A porta desapareceu. Vejo um ponto luminoso há milhas de onde estou. O chão é gelatinoso. Resolvo sentar. Durmo. Dentro do sonho eu sonho que nada disso está acontecendo.
Digo a mim mesmo. Vou atrás desta porta só mais uma vez. Ando por dois meses até chegar no local da porta. Ela não sumiu. Mas não abre. Passo anos tentando encontrar uma forma de arrombar a passagem... não consigo. Espere! Há algo estranho acontecendo com a escuridão. Quadros coloridos se formam em minha mente. Uma voz suave... um cheiro familiar... 

- Jackson?
- Hum?
- Acorda...
- Eu abri a porta?
- Porta? Que porta, querido? Você desmaiou...
- Há quanto tempo fiquei desmaiado?
- Acho que no máximo dois minutos. A culpa é minha... Está muito quente e eu não quis abrir as janelas. Você até pediu, mas eu não queria que os vizinhos ouvissem os nossos barulhos. A sua pressão deve ter ido às alturas.
- Estou bem, mas com calor...
- Quer que eu abra a porta?
- A porta? sim... abra mesmo... por favor. A porta...



By Jackson
In:

Nenhum comentário:

Postar um comentário