QUENTE
Quero-te a queimar a pele, de alto a baixo do meu tronco,
ver-te vermelhar de fogo, nos lábios acabados de morder,
erguer o queixo num movimento levado pela mão que te entra no cabelo
e sentir-te a contorção da dorsal encaixada nas minhas mãos aquentadas...
Quero-nos a acabar de despir camisa e blusa, desapertadas,
ensaiar uma dança de braços em urgidos sacudir de mangas,
levar dedos e palma em rota feita por acima de ti, rumo à curva do pescoço
e raspar-te, entre o eriçado da nuca, e desviar o toque para os teus ombros..
Quero descer digitares e palmares para o centro das costas,
rodar os pulsos e dar impulso às mãos, para que te tragam;
apertar-te, com a força que não aperta;
laçar-te, com os braços que nem atam
e deixar-nos ebulir, a ponto de fervura…
Depois, vou querer que tu te deites;
que então me sintas a sobrevoar-te,
que acrescentes ao teu o meu calor:
que te faça ressudar entre os poros
e me faça deslizar escorregadamente, de baixo a alto do teu tronco…
Quero-te num atrito que não dá fogo inflamado,
e que vem da vontade ardente que não queima…
(mais quente do que o dia)
Sérgio Lizardo
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