quinta-feira, 15 de novembro de 2012




POR ELA


Eu insistia, puxava assunto, desejava-lhe sorte, dava bom-dia e ela, introspectiva, fingia não perceber. Talvez fosse bem casada e a sua vida um mar de rosas virgens, amarelas. Enquanto a minha que tinha tudo para me deixar feliz, enfeitiçou-se com a imagem em três dê, da criatura. Mulher de linhas certas, corpo desenhado a lápis, peitos fugindo a realidade dos padrões e um par de pernas de fazer pecar os monges. Ela era o feitiço do pajé. Era o fruto maduro fora da estação e linda como flor alguma desabrochou. Agora, no entanto, eu preciso de um momento, nem respirar eu quero ou posso e como o cão à espreita da caça não pisca, eu nem pensar, para não perder a concentração, me atrevo. Só os meus olhos, estáticos, hão de observá-la caminhando em minha direção para perto, o mais próximo de mim, passar sem notar que eu estou ali. Escapar ao meu olhar, fugir de mim e se duvidar, dos meus pensamentos, do meu olfato, das minhas tentações eu não creio que seja o seu desejo; ela simplesmente sabe que eu não existo.
Um ano eu vivi a sua espera. Muitos meses eu ardi em febre por causa dela e enquanto a minha vida se esvaía na sua indiferença ela desfilava as linhas tortuosas do seu gingado sem reparar nos aplausos dos meus olhos.
- Quem sabe eu não sou melhor do que pareço(?) e mesmo assim mendigo a migalha do seu olhar, a sobra de um sorriso distorcido que me faria dar saltos de alegria e em troca eu lhe sorriria mesmo que a minha presença não fosse por ela percebida e como da corte sorriem os bobos, eu teria orgasmos múltiplos de felicidade; por causa dela. (Foto da Internet).














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