sábado, 28 de dezembro de 2013

Desassossegado...

Observando os rodopios intensos das minhas lembranças mais secretas, aquelas que aparecem apenas nas profundezas de uma poderosa insônia, eu te encontro sentada às margens de um rio de frustrações, jogando pedrinhas feitas de arrependimentos dentro da água... como se isso pudesse livrá-la da lembrança da dor.
É poética a visão que tenho de você, mas trágicas são as recordações... fico imaginando, aqui deste ponto em que me encontro, sem ser visto, o que se passa nessa sua cabeça enquanto as pedrinhas são envolvidas carinhosamente pelos seus dedos delicados e atiradas à água.
Não vou negar... dá uma vontade danada de me aproximar, passar as minhas mãos nesses cabelos que o vento, descaradamente, agita e fazer dos meus ouvidos um depósito para as suas lamentações. Sim... eu poderia. Mas entre o local em que me encontro agora e você, há uma parede transparente feita com os indestrutíveis tijolos do tempo. Eu não tenho como atravessar... além do mais, há milhares de pontos de interrogação pontiagudos espalhados pelo chão e eu estou descalço. 
Sei que isso não é desculpa... sei ainda que a parede pode ser destruída com um golpe certeiro da minha cabeça dura e que os meus pés, repletos de cicatrizes, poderiam atravessar facilmente este caminho. Como antes...
Sim... você sabe que eu poderia.
Mas há a lembrança da dor.
A lembrança da dor é, deveras, mil vezes mais poderosa que a dor em si.
Por isso, assim como você fez um dia, eu vou embora e não olho para trás. Os rodopios das minhas lembranças deixam de ser intensos e a insônia não é tão poderosa assim.
Enquanto você joga as suas pedrinhas na água, eu jogo as minhas em você. 
A lembrança da dor recebe o nome de mágoa. E eu carrego isso comigo. Várias. Todas com o seu nome delicadamente escrito.


By Jackson Pedro

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