domingo, 9 de dezembro de 2012


Meu anjo, escuta: quando junto à noite 
Perpassa a brisa pelo rosto teu, 
Como suspiro que um menino exala; 
Na voz da brisa quem murmura e fala 
Brando queixume, que tão triste cala 
No peito teu? 

Sou eu, sou eu, sou eu! 

Quando tu sentes lutuosa imagem 
D'aflito pranto com sombrio véu, 
Rasgado o peito por acerbas dores; 
Quem murcha as flores 
Do brando sonho? — Quem te pinta amores 
Dum puro céu? 
Sou eu, sou eu, sou eu! 

Se alguém te acorda do celeste arroubo, 
Na amenidade do silêncio teu, 
Quando tua alma noutros mundos erra, 
Se alguém descerra 
Ao lado teu 
Fraco suspiro que no peito encerra; 
Sou eu, sou eu, sou eu! 

Se alguém se aflige de te ver chorosa, 
Se alguém se alegra com um sorriso teu, 
Se alguém suspira de te ver formosa 
O mar e a terra a enamorar e o céu; 
Se alguém definha 
Por amor teu, 
Sou eu, sou eu, sou eu!"


Gonçalves dias

Foto: Deep Fried Photography


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