domingo, 16 de setembro de 2012


O Silêncio

Nós os índios, conhecemos o silêncio. Não temos medo dele. 
Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. 
Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles

nos transmitiram esse conhecimento. 
"Observa, escuta, e logo atua", nos diziam. 
Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes. 
Observa os anciões para ver como se comportam. 
Observa o homem branco para ver o que querem. 
Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos,
e então aprenderás.
Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando. 
Dão prêmios às crianças que falam mais na escola. 
Em suas festas, todos tratam de falar.
No trabalho estão sempre tendo reuniões
nas quais todos interrompem a todos,
e todos falam cinco, dez, cem vezes. 
E chamam isso de "resolver um problema". 
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. 
Precisam preencher o espaço com sons. 
Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir. 
Nem sequer permitem que o outro termine uma frase. 
Sempre interrompem.
Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive. 
Se começas a falar, eu não vou te interromper. 
Te escutarei. 
Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo. 
Mas não vou interromper-te.
Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste,
mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante.
Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. 
Terás dito o que preciso saber. 
Não há mais nada a dizer. 
Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.
Deveríamos pensar nas suas palavras como se fossem sementes. 
Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio. 
Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando,
e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.
Existem muitas vozes além das nossas. 
Muitas vozes.
Só vamos escutá-las em silêncio.



"Neither Wolf nor Dog. On Forgotten Roads with an Indian Elder" - Kent Nerburn



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