quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Necessária solidão (?)




Não que eu tenha parado para fazer as contas, mas acredito que em cada dez músicas que falem de solidão, nove serão para rechaça-la e apenas uma para, pelo menos, não reclamar dela. E eu digo dessa uma, porque quando estava pronto pra dizer que não me lembrava de uma música que exaltasse a solidão, logo me veio à memória a linda, porém triste, “Preciso aprender a ser só” dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.No fundo, ninguém gosta de ser sozinho. Nem mesmo aqueles que dizem gostar.
Ainda assim, não é raro nos depararmos com quem afirme que precise de um tempo sozinho.
Lembro que dos tempos do falecido Orkut havia uma comunidade chamada “Necessária Solidão”. Essa comunidade tinha vários adeptos. Mas pergunto: a solidão é mesmo necessária? Ela é de fato produtiva? Aprende-se algo com ela? Afinal, ela tem o que ensinar?
Eu, pessoalmente, responderia a todas essas perguntas com a certeza do talvez.
Às vezes há uma gritaria tão grande dentro de nós que não temos condição (e nem aptidão) seja para ouvir o que se diz no nosso coração, seja para ouvir aquele que nos dizem do lado de fora de nós. São tantas as vozes, tantas as angústias, tantos os sentimentos, que acabamos por nos perder na obscuridade da existência de nós mesmos, imersos num escuro que parece nos puxar para baixo e cada vez mais distante de onde venha o ar ou de onde nos chegue a luz.
Numa situação assim, em que não escutamos, mas sentimos demais a tudo e tudo sentimos demais, a solidão até pode ser necessária. Necessária para que se diminuam as vozes que falam conosco. Necessária para que nos escutemos e só.
Nesse caso, a solidão pode ser necessária para que conversemos com o que houver de mais íntimo de nós mesmos e entender quais daqueles “todos sentimentos” é o de verdade e qual é o que está ali para nos enganar – ou pior, para colaborar conosco na mentira que nos contamos e insistimos em acreditar.
Se conseguirmos nos concentrar no que nos diz o silêncio de nós mesmos, poderemos (quem sabe?) obter um resultado produtivo. Mas cuidado! A viagem que se faz para dentro da gente não aceita acompanhante. Ela se faz na solidão da existência atribulada de um (da gente mesmo) e não pode e nem deve durar mais do que o tempo que tenta fazer desnecessária a nova (?) companhia de alguém.
Acostumar com a solidão pode fazer com que não se saiba não ser sozinho. Pode causar um trauma do mundo, uma quase fobia dos demais e, pior, a falsa sensação de que sabemos e podemos ser sozinhos.
Não. O ser humano não sabe ser sozinho e, se o for, na verdade não é.
Em certo momento a alma gritará por companhia; os ouvidos por uma voz diferente da tua ou da TV; os olhos por uma imagem que não seja a que se vê diante do espelho; o coração por uma paixão que o faça achar graça em bater e dar à vida, por fim, uma razão para viver.
Se não há razão de ser sem ser, só haverá motivo para vida, se esse motivo for viver.
Sim, é verdade que de tempos em tempos os sonhos, planos e projetos para um bom futuro dão errado. E daí dói. A dor às vezes é tanta que a gente pensa que o melhor é ser sozinho e não arriscar a sorte na perspectiva de outro alguém que tanto pode fazer bem como pode fazer mal. Ficamos com medo, esse medo de viver que finda por tirar a graça de estar vivo. E daí a gente deixa de viver. Apenas vê os dias passarem e tende a não entender o porquê nada parece bom o suficiente.
Olha, pois, à tua volta. Não só do teu lado. Olha pra trás. Olha adiante. Procura o futuro, mas não deixa de visitar o passado porque ali há lições, há histórias que valeram e ainda valem a pena. O passado não pode impedir o futuro, mas o futuro não pode ser indiferente ao que se passou. Só haverá solidão em que não souber enxergar.
Se você acha que precisa estar sozinho, pense duas, três vezes. Uma mais zero não muda nada, continua sendo 1. Agora, um mais um é dois, e ser dois, pode até ser difícil, mas é sempre bem melhor.
E a solidão? Ah, deixa de história. Vá ser feliz! A solidão nem é tão necessária assim.






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