Nós humanos, reles mortais com mania de grandeza, costumamos achar possível domar sentimentos. Isso deve vir de Darwin e sua teoria da evolução da espécie: estamos aqui porque somos fortes, o resto é qualquer coisa. Daí em diante adestramos animais, fazemos a ciência, enfrentamos Deus como se ele fosse nosso inimigo invisível (feito o câncer). A humanidade, arrogante nela mesma, se fez assim, por mais que não diga para aparentar menos petulância e disfarce a culpa nas atividades filantrópicas.
E quando nos deparamos com algo que parece mais forte, o que fazer? Descermos a condição da inércia parece humilhante, contudo existem mesmo aqueles momentos em que o que fizermos não vai adiantar. Sentar e esperar seriam atitudes de um fraco – e fraqueza é um tipo de oitavo pecado capital. Fraquejar dói, porque somos educados para a vitória – e vencer é ótimo, diga-se de passagem; a humilhação é muito dolorida, a derrota e a sensação de inutilidade também. Mas nenhum deles é pior do que a saudade.
A saudade, dizem uns, tem seu lado bom: é a certeza de que temos coisas boas para lembrar, pessoas queridas que, às vezes, podemos até rever. E a saudade, digo eu, é ruim até no seu lado bom. Lembrar nunca compensará o viver – lembro agora que até a melhor das minhas lembranças é sofrida, pois não está mais aqui. Para se viver bem, acredito, é preciso lembrar um pouco menos, não cristalizar uma vida que foi tanto e já não é.
Agora mesmo, estou morrendo de saudade de muitas coisas que não farão mais parte da minha vida – não mais do que já fazem ou fizeram – e tento fugir disso numa leitura e/ou produção de um texto que não desejo reler (salvo para correções). Mas ora, sou humana, admitindo ou não que em ocasiões feito essa vou sim, largar os livros de teoria na frieza de uma estante e apelar para a companhia de Deus. E o depois vai ser como Ele quiser.
By: ISOLDA HERCULANO
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