sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Acordo cedo. Muito cedo.
Faço com pesar as minhas obrigações, crio músicas com os meus palavrões e canto um refrão tão triste como a descoberta de uma doença crônica. Pelo chão, estão os vestígios de uma noite mal dormida, pelas paredes há marcas de possibilidades impossíveis... impossibilidades originadas no útero da minha descrença, no âmago das minhas covardias, no limiar entre dormência e demência.
Cheio de dores nas costas, eu vou às gaiolas em que eu, carinhosamente, guardo os meus fantasminhas nada camaradas. Coloco, carinhosamente, uns farelos do meu tempo no compartimento de comida e tiro os meus dedos com cuidado, pois eles avançam e mordem. Enquanto eles comem, eu pego uma espécie de garrafinha que tem na gaiola e coloco, até a metade, uns pontos de interrogação que eu sempre carrego, mesmo estando em casa.
Com os meus rituais todos feitos, vou para a minha cama e esparramo sobre ela algumas certezas que precisam ser sacrificadas. Olho para todas elas... algumas não passam de consolos criados por mim mesmo para justificar ausências alheias, outras, descaradamente, foram feitas pelas minhas birras e pelas minhas manias bestas.
Vejo o mundo dos outros através de janelas que não são minhas. Observo tudo. No universo da minha tristeza eu não tenho ânimo pra nada... nem ânimo para pensar em ter ânimo. Os sorrisos, para mim, encontram-se no passado. Sou um misto de Jay Gatsby, de Brás Cubas e de Emma Bovary... personagens que carregam o fardo de um pretérito que nunca termina. Insustentável leveza do estar cansado disso tudo. Ter apego ao que passou é a pior das torturas. Sou um desesperado com muito passado, pouco presente e nenhum futuro.

Durmo.
Os fantasmas já se alimentaram.

By Jackson

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