segunda-feira, 26 de agosto de 2013


Entre, fique à vontade... não se preocupe em tirar os sapatos. A casa é nossa. Sente-se aí. Tenho unguentos para suas dores, versos tristes para os seus amores alegres, piadas sem graça para irritar o seu tédio, júbilos para os seus jogos, espadas para suas lutas. Porque vago e desmaterializado, borbulho brindes nas suas vitórias difíceis e em seguida espoco-me nos ares - fogo e festim para suas comemorações desimportantes. Tenho afagos, beliscões, ouvidos pródigos e palavras bordadas de loucura. Ossos-cabide pra você dependurar suas culpas, lençóis brancos para você deitar de bruços... 

Fique, esparrame-se no sofá. Tome minha vida como se fosse sua, jogue cinzas no chão, entorne vinho em minhas toalhas, ria dos meus deuses preguiçosos, piche meus altares, cuspa em meu tapete vermelho. Tudo bem, tenho águas também. E a ingrata vocação dos que lavam, dos que servem, dos que escorrem entre os restos, nos ralos esquecidos de um mundo desassossegado. Pingo compreensão sobre os pícaros até criar porções de uma verdade que se julga útil, apenas por gostar desse gosto – nunca entendi de virtudes. Nasci homem. A sensibilidade foi apenas um acidente que deu certo, que fez sangrar pétalas em vez de água vermelha.

Minta, se quiser (eu sei que você vai querer). Tenho ajustes para os seus absurdos mais desmantelados. Sofismas para seus insultos. Rodopios para ventilar os seus vácuos. Chore, se puder... misture palavras, tosse e lágrimas num gemido baixo. E se não puder, agrida... Feche as mãos e distribua socos em meu peito, mas não use as suas unhas. Submisso às cores das auroras, furto delas o poder e o impulso de raiar e seguir. Sigo para trás como se não existisse o para frente. Mas eu volto, eu sou do tipo que sempre volta. Malhado de medos camuflados, despejos assumidos, demências escandalosas... sardenta maldição dos recomeços, retorno. Então, abrace-me, se souber. Desarme as bombas das minhas pirraças e tire o tecido preto das birras que escondem os meus sorrisos.

Aprenda que um hoje sempre vale dois amanhãs...

By Jackson Pedro

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