quarta-feira, 17 de julho de 2013



Venha... não tenha vergonha de mim. Pode olhar assustada para os cômodos pequenos de minha casa. Eles são assustadores mesmo. Eu sei. Eles são decorados com esperanças que você me deu em tardes de um domingo desenganado por mim mesmo. Veja esses quadros nas paredes... dores guardadas em molduras velhas. Espasmos agonizantes misturados com tintas coloridas que sufocam o pedido de um socorro impossível.
Não... não tire os sapatos.
Não precisa fingir cuidados porque eu sei que eles são apenas manifestações teatrais que surgem quando a sua consciência é beliscada pela sua culpa. Contemple o meu lar. Olhe para o meu rosto. Veja que cada ruga em minha face foi colada por você. Andanças sem fim na tentativa de encontrar você em outros corpos, em outros rostos. Não!! Não lhe é permitido tocar em nada em meu semblante. Abaixe essa mão e enforque com os fios de sua vaidade ruiva essa piedade sem vergonha que faz dos seus olhos claros um abismo escuro. Faça o que quiser da casa, mas por favor não esparrame as suas digitais em mim. Eu não tenho mágoas, nem medo de uma possível recaída. Com o passar do tempo eu aprendi a afogar as minhas dores, eu aprendi a ser um homem higiênico.
Não toco em você - ótimo.
Você não toca em mim - melhor ainda.

Tem frutas na geladeira... pode ir lá e comer o quanto quiser.
As cascas você pode jogar no lixo que tem no cantinho da cozinha.
No lixo...


By Jackson Pedro

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