Uma noite, entorpecido em meio aos meus
devaneios, me pus a sonhar,
Um sonho que me faria enfrentar o inferno
por quem estou a amar.
Travesti-me então de Orfeu e ousei ir ao Estige só para te procurar,
E em meio às sombras mais profundas de Plutão e Perséfone,
Tu minha Eurídice, Eu vim resgatar.
Deparei-me com um Cérbero: um monstro,
um louco cheio desejos para me vencer,
Ao inferno não desci em vão e para ter-te novamente em
minhas mãos nada poderei temer.
Não poderei perder-te pra serpente que teus anos vindouros abreviou....
Então suplico aqui humildemente para aquele
que em rapto mostrou à amada o que sente,
Que tal como na terra o amor tudo vence e a falta daquela
que tanto amo meu coração tão ferido não mais suportou,
Rogo agora que regresse à vida comigo quem se apodera de todos os meus sentidos ou a alma de dois amantes o inferno dirá a todos que se apoderou.
E por silêncios mudos eu dava minha vida em prol da tua morte e lutava contra uma força pungente que nós separava,
E em uma atroz piedade o rei das trevas me rege em uma
terrível lei na qual eu não esperava...
Sem olhar para trás incumbiu-me na missão
de regressar com minha amada, mas de maneira
alguma poderia por sobre ela o meu apaixonado olhar...
Que infeliz eu sou por perdê-la duplamente para a
mesma morte, mas como sou um desventurado,
um Orfeu sem sorte estendendo
os braços para agarra-la e nada seguro além do ar...
Em olhos repletos de lágrimas recobro a consciência
e agora sem medo posso te olhar,
E te vejo com a face celeste, delicada em suas feminis
vestes ao meu lado docemente a ressonar....
Percebo então a dimensão de quanto te anseio e vejo o
que seria a minha vida sem ti por perto de mim...
E digo que por tua vida eu iria de fato ao inferno, pois o amor que de toda a alma te entrego, nem mesmo a morte consegue por fim.
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