domingo, 14 de julho de 2013

Eu não quero ser lido... preciso ser ouvido!


Com todas as empolgações de quem fala alto quando está alegre... que cospe sem querer porque começa a falar rápido, tropeçando nas palavras como se elas fossem batentes invisíveis, atropelando vírgulas que têm a respiração ofegante, como quem atropela pombinhos sem noção que ficam passeando nas avenidas movimentas... Eu preciso contar as minhas aventuras e desventuras, gesticular até ter tendinite e falar até ver a voz falhar, suplicar por um pouco de água... uma mínima porção de fôlego. Sopro de vida para os que carecem de uma empolgação reles e momentânea.
Não quero ser alimento enlatado, com letrinhas no rótulo, para distrair a sua fome. Quero transformar em sons as minhas vogais jogando alpiste para as consoantes que estão procurando sentidos para as suas vidas. Quero derramar vida no vácuo. Despejar a leiteira de alegrias dentro da xícara suja de resquícios teimosos de um passado insistente. Deixe-me contar algo... deixe esse algo tocar alguma coisa em você. Mesmo que pequenina... deixe. Não custa nada.
Tenho sol, mas também tenho chuva... trovoadas órfãs, arco-íris de cores confusas e vendavais ladrões. Tenho medos molhados, coragens que são encontradas em brejos e uma decisão que toma remédio controlado. Chove... Pequenas gotas que caem de uma nuvem melancólica, cinza, grande, carregada de coisas que não podem ser transportadas. Algodão com cara de palha de aço. Tristezas condensadas, lágrimas gasosas que sujam o azul invisível de um céu sem cores. A velocidade da voz é sufocada pela lerdeza do recordar... a transmutação de dores em palavras que também precisam ser ouvidas. Paro de cuspir enquanto falo e choro enquanto tento construir um discurso que não quer sair... porque sair é a concretização de um desejo inconsciente. Liberdade é uma palavra bonita para quem não vive em uma prisão sem muros edificada dentro dos campos de uma limitação torpe.
Não decodifiquem as minhas garatujas digitais... formiguinhas saltitantes que seguem os passos de um cursor bêbado e abusado. Elemento cara de pau que desafia a minha capacidade de reconhecer que não sei escrever nada. Sou um ótimo leitor, um exímio falador, um puta contador de histórias com um fim que vem antes de um meio e um início que sempre fica para o dia seguinte. Mas não escrevo nada e quando sai alguma coisa, é algo bizarro, como a placenta que ganha vida e o feto que é jogado no lixo. É assim. Fazer o quê? Não posso negar...
Permita que eu conte algumas histórias... são minhas mesmo. Eu dou garantia. Elas têm até nota fiscal. Eu imito vozes, faço gestos, reproduzo manias minhas e digo que são de outras pessoas... posso até deitar e rolar naquela velha história de "ei, eu tenho um amigo que...". Não sou o Pedro - apóstolo de Cristo - mas tenho as minhas negações. E posso garantir que são muito mais de três.
Deixe que eu espalhe os meus medos mais secretos, mas por favor não conte para ninguém. Nem mesmo para o seu reflexo no espelho. Não me leia. Apenas me ouça.
Mesmo que nada faça sentido. É o meu segredo que eu repito todos os dias pra mim mesmo. Mantra esquizofrênico e compulsivo. Litúrgico até o tutano do meu menor osso.
São as minhas histórias... desassossegos verídicos transformados em narrativa sem foco. Narrador que oscila a sua linha emocional o tempo inteiro. Que senta no limiar do desequilíbrio e que joga pedrinhas no abismo dos histerismos. Um catador de letrinhas abandonadas... um libertador de letrinas recicladas... mas eu gosto mesmo é de falar.

Eu não quero ser lido nem escrito.
Eu preciso apenas ser ouvido.

Só isso.

By Jackson Pedro

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