domingo, 16 de junho de 2013



Acordo com o peso de mil mundos nas costas... a cabeça faz questão de girar todos os meus pensamentos. Os meus olhos se abrem mas o domingo enfia os seus dedos indicadores dentro deles. Abraço o travesseiro como quem agarra um pedaço de madeira no meio do oceano. Engulo o ar seco da atmosfera das frustrações. Olho para a parede e sussurro uma expressão sofrida: podia ser verdade...

Levanto da cama e percebo que as minhas pernas doem. Parece que os meus ossos foram esmagados por algo metálico. Sou insistente. Olho nos olhos da dor e pergunto se isso é o melhor que ela pode fazer. Arrasto-me com dificuldade e assumo o controle dos meus membros. Ligo o chuveiro e não tiro a minha roupa. Com dez minutos de banho eu percebo que estou vestido. Choro e misturo a água quente do chuveiro com a água salgada das minhas lágrimas. Furo o sabonete com um dedo e escrevo um nome no azulejo branco. Fico observando o nome que aos poucos vai desaparecendo.

"Podia ser verdade..." esse mantra não sai de muinha cabeça. O carrossel de pensamentos gira depressa. Tiro a minha roupa, finalmente. Me abaixo e sinto nas costas toda fúria da água quente. Com os olhos fechados eu tenho uma visão. Os rodopios daquele bailarina... os seus movimentos graciosos que deixavam a minha boca aberta, como se fosse vítima de um ataque soviético de câimbras.
O flash back intrometido desaparece. Estou tossindo. A sua voz fala dentro da minha alma: "Amor, o que você achou da minha apresentação?"

O globo fica embaçado...

Era uma bailarina de vinte e seis anos. Eu a conheci através do que a humanidade tem de mais precioso: a arte. E a perdi por conta do que a humanidade tem de pior: a estupidez. Do primeiro rodopio no ar ao último encontro (não houve adeus, apenas o desaparecimento) foram muitos solos de violino e uma chuva torrencial de sons metálicos e pungentes. Eu, plateia assumida... ela, dona do espetáculo. Dançou e encantou o mundo, mas no universo incomensurável das nossas quatro paredes, eu fui o seu equilíbrio... Lago dos cisnes absoluto que em questões de um abrir e fechar de olhos se tornou menos que a sapatilha surrada e descartada que vai ao lixo com requintes de abandono.

E perdido nos labirintos infindáveis da dor, eu esbarro nas paredes do descaso... busco saídas de um acontecimento que está escrito nos tomos do universo. Sentença dada por Deus, sem direito a recursos.
Pela milésima vez eu me pergunto: "Por que?"

Deito e coloco tchaikovsky para tocar...
As cortinas se abrem... Lá está ela. Nas pontas dos pés... Um salto no ar. Rodopios incríveis. Dentro da minha cabeça ela é minha. Abaixa-se, levanta uma das pernas... corre pelo palco. O seu olhar se encontra com o meu. Um sorrisinho de lado em seu rosto.
Chove muito e os relâmpagos bailam no firmamento aos sons dos trovões...

- Você estava maravilhosa, meu amor. Parabéns. 
- Obrigado.
- O que houve? Você está estranha...
- Foi nada não. Preciso ir para casa agora... meu pai está preocupado.
- Eu vou com você. Pode ser?
- Não. Estou exausta. Preciso dormir. Amanhã nos falamos...

Não nos falamos no dia seguinte e nem nos que vieram depois. Ela trocou de número, mudou de casa e simplesmente desapareceu. Eu não fui atrás por acreditar que a nossa história tinha sido sagrado para ela também. Mas para a minha surpresa, o amor foi sagrado apenas para mim.
Ela estava comigo em meus sonhos. Estávamos juntos e felizes. Como se nada tivesse acontecido.

Podia ser verdade!

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