Ódio declarado, sem os requintes de confissão, já não digladia - reduz-se à careta e à expressão de um enjoo tântrico. O mesmo se dá com o amor. Quanto mais minuciosa a afirmação, menos se espera dela. Falar sacia uma parte gulosa do ego e é por isso que acalma, que traz uma tranquilidade ilusória. No espaço em que se infla os egos a magia agoniza na alegria mórbida de ver as peças de um quebra-cabeças se encaixando. A imagem formada pode ser linda ou horrorosa, comover com encantos ou incomodar com asco. Mas é uma imagem pronta, estática que se dissolve no tempo e no álcool porque não há mais movimento. Talvez um desfile de espasmos involuntários e inconstantes... sem vida. Sem alma. Sem graça!
Tudo que pulsa, tateia. Saboreia. Esperneia. E não se diz nada do sabor com a boca ainda cheia. O que é cuspido não é a sensação, mas o corpo cujo gosto não há mais. É a matéria sem essência... O organismo sem vida. O fazer por fazer. É o castigo do ego-cêntrico para o ego-ísta.
Só me confesso nos epílogos, às margens dos finais, quando o futuro já não me importa mais.
...Um bonde chamado foda-se.
Literatura do Desassossego!
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