sábado, 11 de maio de 2013


Lobos


Os lobos me perseguem diariamente.
Posso ver suas presas em um sorriso malicioso e indecoroso.
Posso ver a salivação em suas bocas em um desejo irrefreável e pavoroso.
Ouço seus uivos crescentes e indecentes em meus ouvidos, impregnando meu cérebro com imagens pecaminosas.
Acreditam que sou uma presa fácil e que meu corpo 
seria uma deliciosa fonte de prazer.
Eu poderia deixá-los me pegarem, me usarem, 
me matarem com suas garras sujas e luxuriosas.
Eu poderia deixá-los fazer o que quiserem comigo 
e ainda pediria por mais.
Mas me contenho.
Evito, disfarço, me escondo.
Finjo que não vejo, finjo que não sinto, finjo que não ouço.
Finjo que eles não existem.
E talvez não existam mesmo.
Pelo menos não no mundo onde você existe pra mim.
Não da forma que você existe pra mim.
Mas você é apenas um cachorrinho apavorado no 
meio dessa enorme matilha.
És apenas o menor animalzinho que não tem coragem de
 se aproximar e dar a primeira mordida.
Meu corpo seria todo para você, se ao menos o quisesse.
Minha alma seria toda para você se ao menos a quisesse.
Eu poderia fazê-lo o homem mais feliz do mundo se ao menos quisesse.
Mas você não vem.
Você finge não ver, finge não notar, finge não desejar, exatamente como faço com os outros, nesta interminável cadeia alimentar.
Eu estou preparada.
Estou preparada para deixá-los me pegar, para deixá-los me devorar como um pedaço de carne descartável. Mais do que preparada, 
eu quero que eles o façam.
Quero que possuam meu corpo, alimentem-se de toda esta carcaça que restou de mim e acabem com esta frustração interminável que 
é viver sob uma pele como a minha.
Quero que tirem todo o prazer que têm para tirar e 
me permitam finalmente respirar.
Eles se aproximam cada vez mais e sinto que estou pronta para me entregar.
Olho para você uma última vez e tudo o que fazes é se afastar.
Você desistiu antes mesmo de começar.
Eu sou a presa fácil que todos eles estão lentamente a devorar.
Eu sou aquela mulher frustrada que nunca poderá te amar.
Acabou.
Poderia ser você.
Oh, como poderia ser você!
Exatamente como deveria ser eu…"

Cuera - 21 anos.



Um comentário:

  1. Esse texto descreve exatamente o momento que estou passando em minha vida. Parabéns pelo blog amiga e parabéns a pessoa sensível que escreveu este texto.

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