Há muito tempo venho tentando, em vão, amar!!
Um amor, que contenha todas as perfeições, que contagie a todos e que fale de tudo, mas que ao falar ao ser amado, pouquíssimas palavras lhe bastem. Em um breve olhar, toda a compreensão. Em um dos infinitos sorrisos que o amor recria, a cumplicidade, o pacto, a transfiguração total do ideal em real. Ao pressentimento do toque, mesmo distante, a atração imediata e urgente. No toque, a transformação: macho, homem, fera irracional e desconhecida - um quase 'sapiens' de mistério; fêmea, mulher, alma selvagem, olhar visceral - entrega. Ambos explodindo em urgências! Em tudo. Uma chuva de exageros picotados e coloridos. E que ao se tocarem os seres amados, sejam a mais pura e intensa sagração do instinto. O desejo mais insano a dançar como um desequilibrado sob e sobre os lençóis. Os lençóis são indispensáveis. Explodindo-os sem modéstia, com beleza. Desfazendo-os loucamente - homemulher - em pequenos cristais de sonho, névoas que dançam nas fronteiras dos espasmos.
Ah! Há muito tempo...
Fui Ulisses, fui Homero... adorei ilhas desertas. Mas eram só ilhas, desgraçadas, tudo mentira. Tenho pó de ilusão aos meus pés. Gotas de negação escorrem por todo o meu corpo. Ilusões negadas.
Fui Hamlet, fui Otelo, fui Romeu. Vai vendo, Shakespeare! Pode ver e se quiser sorrir, nem precisa disfarçar. Morri infinitas vezes por nada. Amei muito a ideia, idealizei amor e amada. E o ideal (e trágico): nada de ser conquistado! Tenho muitas letras aos meus pés. Elas saem de minha pele. Simplesmente...
Fui Merlin, o mago, fui Lancelote, fui qualquer cavaleiro sem nome e sem honra. Andei por Avalon, por Camelot, pela Terra Média e por Salém. Feiticeiro e enfeitiçado fui, refém dos encantos que eu mesmo inventei. E a princesa frágil e linda, abortada, jaz ainda nas entranhas da minha imaginação estéril. Tenho lagartos aos meus pés.
Fui Brás Cubas, fui Bentinho, eu queria ser como a Capitu... cínica como o tal Machado. O Assis. Andei por pântanos de ciúmes e carreguei nas costas a desconfiança. Sou quase póstumo, hoje, não sei de nada. Tenho algumas sombras aos meus pés. Muitas em meu peito.
Fui Eros e Psiquê... Fui Freud. Amarrei, amordacei e ameacei o id. Libertei-o em seguida. Eu ajudei Perseu com a Medusa . Todos os meus atos são falhos. Tenho delírios e desejos malucos aos meus pés.
Fui etéreo, vaguei sem pressa por aí, fui sol numa tarde linda de domingo. Caminhei num chão de estrelas e tropecei em todas elas, sem distinção. Toquei nuvens carregadas, molhei as mãos. Disseram-me louco, alienado... caí. Tenho cacos cósmicos aos meus pés. Infinitos...
Fui chuva, fiz trovoadas, distribuí raios pelo céu... devastei e fertilizei. Transbordei sem preocupações. Molhei tantos corpos e muitos rostos me sorriram, outros tantos me esqueceram. Escorri feito em pingos, no infinito e sombrio ralo do mundo. Tenho o calor aos meus pés.
Fui tanto, mas poderia ter sido mais... o que fui se resume em merda! E como toda merda, esgoto. Dúvidas?
Há muito tempo eu te procuro! Está tão próxima a certeza de abrir os meus braços e cantar! Estive o tempo todo ao seu lado. E voei tão longe... Inutilmente.
Estou voltando para casa.
Nem era pra ter saído.
By Jackson
Literatura do Desassossego!
In: https://www.facebook.com/desassossegos.literarios
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