domingo, 21 de abril de 2013


A Tua Boca


A tua boca. A tua boca. 
Oh, também a tua boca. 
Um túnel para a minha noite. 
Um poço para a minha sede. 

Os fios dormentes de água 
que a tua língua solta num grito cor-de-rosa 
e a minha língua sorve e canta 
e os meus dentes mordem derramando a seiva 
da tua primavera sem palavras 
o poema inquieto e livre que a tua boca oferece 
à minha boca. 

As loucas bebedeiras de ternura 
por essa viagem até ao sangue. 
Os beijos como fogueiras. 
As línguas como rosas. 

Oh, a tua boca para a minha boca. 


Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'



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