terça-feira, 8 de janeiro de 2013


Palavras à discrição


Perco as palavras da mão, 
Que caem do pensamento.
Umas partem-se no chão,
Outras fogem-me no vento.

Não desespero, porém,
Porque mais outras virão.
Só quem não lê nunca tem
Palavras à discrição.

Umas são ninhos de penas,
Onde adormeço sonhando.
Em noites longas, serenas,
Partem comigo em bando. 

Outras são nuvens de pó,
Sem formas, brilho ou cor.
Cercam-me, deixam-me só,
Estonteada de dor.

Voltam depois novamente,
Como quem pede perdão.
Saltam nos dentes da gente
Em alegre agitação.

Contam-me casos de amor,
Que só os livros conhecem.
Rio, morro de pavor,
Amo heróis que nunca esquecem.

Dão-me joias divinais
E vestidos de princesa.
Colhem sonhos em beirais, 
Põem-me sonhos na mesa.

Com elas, eu corro mundo,
Atravesso a dor da vida.
A Terra fica sem fundo,
A chegada, sem partida.


Maria da Fonte


Nenhum comentário:

Postar um comentário