terça-feira, 29 de janeiro de 2013



Assim Como Eu


João nasceu numa família com muito amor para dar. Foi acolhido por uma mãe jovem mas dedicada e uma irmã curiosa e atenta. Aos quatro anos, o médico de família diagnosticou um problema de saúde raro e foi com delicadeza que anunciou à mãe do pequeno que ele não iria desenvolver-se com a regularidade e a rapidez que é considerada normal. Alguma dificuldade para gerir emoções, um crescimento mais lento apesar de regular e algumas outras diferenças que iriam caracterizar o menino. Apesar de tudo isso, João tinha uma qualidade sempre mais rara hoje em dia: sabia amar, acarinhar e não conhecia o interesse ou o cálculo do que recebe para dar. Assim João cresceu. Deu e recebeu muito amor. A vida nem sempre foi fácil, mas foi rodeado de paciência e dedicação.

Hoje, João vai a caminho dos dezoito anos. Como ele não gosta de ser medido, diremos apenas que reage e encara a vida como um rapaz de dez ou doze anos e vê a vida à sua maneira. 

Vamos interessar-nos num evento que  permitirá ao leitor descobrir que ainda há seres verdadeiramente doces e bons, além de demostrarem uma grande consciência das realidades do Mundo.

É sábado. A irmã de João propõe-lhe um passeio. Como ela deve ir fazer uma compra, pede-lhe companhia. No centro comercial, o jovem escolhe com sabedoria um par de sapatos e paga com o dinheiro que economizou, tendo recebido algum pelo seu aniversário e pelo Natal. A irmã pergunta:

- Não queres guardar o dinheiro para outra coisa? Um jogo ou uma bola. 
- Não. A mãe não tem muito dinheiro. Pago os sapatos e assim ela já não precisa de pagá-los.

Ao sair da sapataria, vêm um homem, de olhar doce e voz calma, chamar a atenção dos transeuntes para a causa que defende e para a qual tenta angariar fundos: um orfanato para crianças incapacitadas ou com dificuldades de desenvolvimento. João para e escuta. Compreende que cinco euros permitem alimentar uma criança por um dia, do pequeno almoço ao jantar. Fala com a irmã:

- Ajuda-me a contar as moedas. Confundo-as sempre.
- Queres ajudar o orfanato?
- Sim.
- Quanto queres dar?
- Cinco euros.

Contam o dinheiro que entregam ao voluntário. É-lhes entregue um recibo, acompanhado por um sorriso e um agradecimento dos mais sinceros. Durante o caminho de regresso a casa, a irmã pergunta:

- Porque quiseste dar dinheiro a esta associação? Já não tinhas muito...
- Eu sei. Mas assim, ajudo as crianças que precisam porque não têm pais para cuidar delas.
- Sabes que não é a única característica das crianças daquele orfanato?
- Sei. Eu dei dinheiro para ajudá-las porque elas têm problemas e não vêm o Mundo como os outros. Assim como eu...

dm
Publicada por Dulce Morais 

In: http://crazy40blog.blogspot.com.br/2013/01/assim-como-eu.html


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