Nenhum de nós está imune aos efeitos do estilo de vida contemporâneo. Assim, convém refletir: qual o pano de fundo no qual os relacionamentos humanos ocorrem?
A liberdade pós-moderna permite tudo. Por certo, somente a efemeridade das coisas: tudo apresenta-se como disforme, fluido, impossível de constância e permanência - daí decorre o conceito de modernidade líquida de Bauman, sociólogo polonês.
As características do estilo de vida pós-moderno – contido na chamada de Era do Vazio por Lipovetsky, filósofo francês - pode nos ajudar a compreender onde estamos e porque agimos como agimos:
Trocas rápidas e instantâneas de informações;
- Mensagens curtas e muito fluxo. A objetividade é confundida com a superficialidade. Mais importante que a verdade e substância da informação, é a rapidez com que ele se dá na forma como ela se dá;
Produtos que quebram e são substituídos rapidamente;
- Consumismo. Em nível mais profundo, uma propensão ao descarte e uma tendência ao enjoar das coisas (e pessoas);
Produtos que não quebram e são substituídos rapidamente;
- Idem.
Relacionamentos descartáveis
- Segundo Bauman, a tendência por fazer escolhas de produtos que possam num curto período serem trocadas por outras mais atualizadas e mais promissoras, também influenciam o ritmo da busca por parceiros cada vez mais satisfatórios.
Distorção do real;
- Os meios de comunicação e reprodução da realidade não reproduzem o mundo de acordo com sua realidade de fato, “[...] eles o refazem à sua maneira, transformando-o num espetáculo”, segundo o filósofo Baudrillard e o comunicólogo Santos.
Assim vemos em perfis de Facebook situações cotidianas que parecem reportagens de revistas e espetáculos de tv, com fotos de festas, sorrisos, corpos esbeltos etc. Nosso caminho espiritual, nossos relacionamentos amorosos e nossas carreiras profissionais, se não forem transformados em espetáculo e propagados em redes sociais ou outros meios de comunicação, não tem “valor”.
Perda de substância do sujeito;
- Consequência dos elementos anteriores, diante da sociedade do descarte e do espetáculo, o sujeito se sente vazio e pressionado por esta "realidade" retratada a seguir estes padrões e avalia sua vida segundo estes critérios;
Individualismo
- A hipervalorização do Eu - por meio de objetos e liberdade para satisfação irrestrita dos desejos - e o recebimento constantemente informações de forma fragmentada, faz com que percamos a capacidade de enxergar o todo, assim, nos atemos ao nosso pequeno mundo de interesses “próprios” e ao curto prazo. Segundo relata o comunicólogo Jair Santos: “sugerindo ao individuo um ideal de consumo personalizado, ao massagear o narcisismo”.
Distorção da Moral
- A religião e a moral, são utilizadas de acordo com o interesse de cada um: são também produtos e servem para nos trazer satisfação, não um caminho a seguir. Assim, usamos e interpretamos a moral religiosa quando e da forma como convém. O importante é estarmos satisfeitos.
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Irmãos, não somos vítimas.
Somos protagonistas desse estilo de vida e maneira de olhar à vida, a nós mesmos e ao outro. Ninguém é o autor de estória de nossas vidas, além de nós mesmos.
Refletir, dissecar e encontrar nas “nossas” verdades, ilusões plantadas pela sociedade pós-moderna.
Emmanuel aborda o estilo de vida pós-moderno na mensagem “Segundo a carne”, presente no livro Pão Nosso:
“Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis”.
Paulo (Romanos, 8:13)
“Para quem vive segundo a carne, isto é, de conformidade com os impulsos inferiores, a vida nada mais é do que uma série de acontecimentos vazios. Em todos os momentos, a insatisfação lhe será fantasma incessante. [...] não pode contar com a benção do amor, porquanto, [...] os laços afetivos são meros acidentes no mecanismo dos desejos eventuais. A dor, benfeitora quando bem refletiva, lhe é intolerável; a disciplina lhe é angustioso cárcere e o serviço aos semelhantes lhe é humilhação. Desditoso o homem que vive conforme a carne. Os conflitos de posse atormentam-lhe o coração [...] este fez questão de aumentar apetites e prazeres pela integração com o lado inferior da vida. Que poderá esperar após a morte do corpo, se não sepulcro, sombra e impossibilidade, dentro de uma noite cruel?”
Emmanuel
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Emmanuel e Bauman, cada um a sua maneira, abordam o que parece permear nosso estilo de vida.
Qual a saída?
O mundo pós-moderno nos oferece anseios que são que levam ao retorno do mesmo: é um correr atrás do próprio rabo, é voltar a um ponto onde já estivemos antes, é sofrer angústias já sofridas antes.
O pós-modernismo busca a intensificação das sensações e dos prazeres, mas sem jamais conhecer de fato aquilo que ele tanto almeja: a felicidade. Nas relações humanas as identidades são marcadas pelas incertezas. O casamento - e relacionamentos em geral - tem caráter de festividade (e espetáculo aos outros) do que compromisso entre pessoas que buscam uma vida em comum de amor e cuidado. Cada um siga segue seu rumo quando o amor perder o prazo de validade.
Sim, o Amor parece ter prazo de validade também em uma sociedade de consumo e descarte. Não somente a relação, mas o sentimento do “amor” entre duas pessoas.
A saída é darmos uma razão de ser à vida, diferente do que nos sugere o mundo pós-moderno: é termos um olhar mais profundo e menos superficial sobre tudo.
É necessário acendermos luz em nossas mentes e corações.
Encontrarmos nas “nossas” verdades, muitas ilusões plantadas pela sociedade pós-moderna.
A leitura edificante, a prática da oração e o exercício da caridade são excelentes ferramentas para nos trazer preenchimento ao vazio que sempre parece nos perseguir.
Deixamos aqui algumas perguntas para reflexão:
De onde vêm nossas crenças e anseios sobre como nossa vida deveria ser? Da TV? Das revistas? Das fotos e perfis alheios de redes sociais?
Como avaliamos o que tem valor em nossas vidas? Aquilo que se transforma em espetáculo passa a ser mais valorizado e símbolo de felicidade?
Que padrões se repetem em nossas vidas?
Por quê?
Irmão, irmã. Caso ao ler esse breve estudo, tenhas se sentido acusado, incomodado ou tocado de certa forma, ele cumpriu sua função: algo dentro de ti reconheceu uma verdade.
Com o tempo, com o abrandar do Ego, de nossas crenças arraigadas e emprestadas de outros tantos e com o surgimento de uma nova perspectiva da vida, vamos nos libertando desse ciclo auto-ilusório, nos aproximando mais de nós mesmos e não de nossas máscaras.
Nossas sombras vão se iluminando e no clarão da verdade que uma vez sentida no coração e na mente, perceberemos o que Jesus quis nos dizer quando a verdade nos libertará. Libertará do que?
De nossas crenças e padrões limitantes de vida, que não nos levam a lugar algum, a não ser ao mesmo de antes, nesse eterno retorno do mesmo.
A mudança se inicia por dentro: a Paz começa em nós.
p.s.: Para saber mais sobre pós-modernidade:
BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BAUMAN, Z. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003
LIPOVETSKY, G. A era do vazio: ensaio sobre o individualismo contemporâneo. Tradução Miguel Serras Pereira e Ana Luísa Faria. Lisboa: Relógio d’água, 1989.
SANTOS, Jair Ferreira. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2004.
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