terça-feira, 12 de junho de 2012

VERSOS CONFUSOS - NALDO VELHO





O poema que eu não escrevi,
a ferida que volta e meia incomoda,
coisa feita pra doer, mal resolvida,
a tapeçaria inacabada no quarto,
a última dose de conhaque,
o café bem quente e doce,
o cigarro aceso entre os dedos,
cacos de vidro espalhados
por todos os cantos da casa.


O trem que eu não tomei,
a mulher que eu muito amei
e que como água, escapuliu-me
entre os dedos,
o navio que partiu pra bem longe,
a saudade doída e confessa
e a lágrima no olho esquerdo
que ameaça chorar, mas tem medo.


Um sorriso a disfarçar meus segredos,
inquietude entranhada na alma,
loucura que eu trago reprimida
e a artéria continua entupida,
congestionamento na via expressa;
o Pai Nosso numa prece
e o sinal permanece fechado.


O livro de contos?
Faz tempo não pego!
Hoje em dia só escrevo poemas.
Alguns deles, nem são poemas,
parecem mais amontoados, confusos,
de versos estranhos, profusos,
que por mais que eu tente impedir,
rebelados que são, teimam em surgir.


E a ampliação da casa continua num esboço.



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