Velhas carpideiras choram
sobre o cadáver de um poema,
pássaros em debandada,
chuva de vento, constrangimento,
sudoeste que se aproxima
e varre meus pensamentos
e as pessoas pelas ruas
passam, e não param.
Na torre da igreja:
sinos, esperança, missa das seis.
Na cidade chove um absurdo de lamentos.
Mais um cadáver!
Desta feita um soneto,
e um beija-flor se debate inutilmente.
Paixão construída em versos
que o tempo desmaterializou.
Luz da lua insiste em se mostrar nublada,
portas e janelas permanecem fechadas,
e aqui em meu quarto: tuas cartas,
um maço de cigarros, um livro de contos,
e as teclas do piano entristecidas:
harmonia em tom menor,
melodia dissonante,
arrastada, quase fúnebre.
Lá fora, carpideiras continuam seu trabalho,
versos espalhados, incoerentes, embaralhados,
rimas pobres, mutiladas, dilaceradas.
Ao longe: ritmos tribais, linguagem estranha,
coisa panfletária, mensagem do avesso.
Aqui dentro: o poeta agoniza e chora.
Solidão, nostalgia, desentranhamento.
Morre o homem, agoniza a poesia.
Na pedra fria seu epitáfio,
ainda assim, as pessoas passam e não param...
Aqui jaz minha reflexão!
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