"Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos
da suposta visita da dor, soltamos os cães.
Apagamos as luzes.
Fechamos as cortinas.
Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos.
Ficamos quietinhos, poucos movimentos,
nesse lugar escuro e pouco arejado,
pra vida não desconfiar que estamos em casa.
A encrenca é que, ao nos protegermos
tanto da possibilidade da dor, acabamos nos
protegendo também da possibilidade de lindas alegrias.
Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante,
não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela,
se não abrirmos a porta.
Não há como adivinhar e,
se é isso que nos assusta tanto,
é isso também que nos dá esperança."
Ana Jácomo
Il. Nik Helbig
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