domingo, 26 de janeiro de 2014

Considerações sobre o corpo feminino.

Muito se discute sobre a massiva exposição do corpo da mulher nos dias que correm. Dúvidas de todo tipo envolvem a questão. Preconceito? Moralismo excessivo? O que há por detrás disso e, se algo houver, quais as consequências?
Esta conversa não é novidade para ninguém. O corpo feminino tem sido usado, desde há muito, como objeto de consumo e o tema continua bastante discutido, principalmente entre indivíduos das mais diversas correntes religiosas, filosóficas e moralistas de plantão. Alguns afirmam que isso é característica da modernidade, da falência dos costumes ou da intensa erotização da sociedade contemporânea, no entanto basta consultar obras, artísticas ou pseudoartísticas, de diferentes épocas do passado, para perceber que não se trata apenas disso. Embora os fatores apontados possam ter levado a maior expansão dessa prática, ela é tão antiga quanto a civilização.
Outros poderão dizer: “Ora, também se pintam, ou se fotografam paisagens e animais e crianças e todo tipo de objetos! Mulheres seminuas, ou despidas, são somente mais um tema, como outro qualquer.” E talvez tenham razão, afinal a arte não deve ser restringida. Justificativas, porém, fazem parte de qualquer ato, independentemente da intenção, mas, ainda assim, vamos insistir na afirmativa de que o corpo da mulher tem sido e continua sendo explorado como qualquer objeto. Se alguém tem alguma dúvida a respeito, basta folhear os milhares de revistas à disposição nas bancas de jornal de qualquer esquina, de qualquer canto do planeta, _com a raríssima exceção dos países cuja religião não permite esse tipo de exposição _ para confirmar esse fato.
Observem-se ainda, nas paredes de qualquer botequim, ou oficina mecânica, por exemplo, os calendários. Atente-se para os outdoors espalhados pelas ruas. Verifiquem-se as propagandas televisivas. Corpos e mais corpos femininos de todas as cores, tamanhos e preços. Tudo isso faz parte de um enorme engodo, uma imensa farsa que tem iludido milhões de mulheres com promessas de sucesso e riqueza_ o que realmente acontece com algumas_ mas, sobretudo como alcance de felicidade, o que infelizmente não se concretiza para a maioria. Essa prostituição glamourizada, que coloca os interesses materiais à frente de princípios e ideias, politicamente correta do ponto de vista de uma sociedade que elegeu como valor o poder conferido pelo dinheiro, tem gerado, para as mais iludidas, uma série de consequências nefastas.
A liberalização dos costumes exalta o discurso da independência feminina, prega que a mulher tem a liberdade de fazer o que quiser com o seu próprio corpo. Ninguém discorda de que isso está cada vez mais presente em vários segmentos da realidade, mas a pergunta é: até que ponto? Não se discute também ser necessário que uma pessoa faça escolhas_ fenômeno da liberdade_ desde que e estas sejam feitas de forma consciente em relação a si mesma e da sua relação com a os outros. Mas quando se caminha numa estrada ilusória, sem um mapa da realidade do caminho, fica difícil falar em consciência de atitudes. Não é fato incomum, famosas, modelos de beleza, trocarem de parceiros com a mesma constância e rapidez com que trocam de roupas para um desfile. Viajam, frequentam festas, são assediadas, exploradas em excesso de trabalho e diversas sucumbem. Emocionalmente inseguras, afetivamente insatisfeitas, algumas delas buscam o entorpecimento de suas frustrações no uso e abuso de drogas de toda espécie. Isso acontece porque são ignoradas como pessoas e tratadas como corpos que vendem bem, ou seja, como objetos de consumo. São livres e independentes? Há naturalmente aquelas poucas privilegiadas que mantêm o controle da situação e não se deixam destruir, mas, mesmo assim, são usadas com idêntico objetivo. É importante considerar essa situação, analisá-la sem ideias pré-concebidas, sem medo de parecer reacionário, démodé, preconceituoso. A pressão da sociedade é frequentemente culpada pelas distorções que ocorrem no âmbito individual, isso, porém, não nos isenta da responsabilidade de examinarmos criticamente os valores que nos são impostos e impormos a eles a nossa condição de entes dotados de raciocínio. Só então poderemos falar em liberdade de escolha e estaremos prontos a enfrentar as consequências de cada uma dessas escolhas.



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